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O amor é um filme que você já viu antes, mas esqueceu o final.

Eu vi a mim mesmo ali, começando de novo, esperando você em nosso primeiro encontro. Enxuguei nas calças o suor das minhas mãos e abri a porta, senti meu coração bater depressa. Vi você chegar, linda… linda, e ficar por aqui.

Ouvi nossas conversas de madrugada, revivi nossas saudades de todo dia. Provei outra vez o gosto ruim das incertezas do início e das distâncias entre nós, feito caqui amarrando na boca.

Revivi nossos almoços na manhã da tarde, nossas conversas sem mais, nossas angústias divididas sobre a mesa.

Sonhei outra vez os mesmos sonhos improváveis. Você e eu e os nossos numa sala de espera de aeroporto, aguardando o embarque para qualquer lugar bonito. Você passeando em cima de um camelo, fazendo mais belo um deserto inteiro só por estar ali. Vi o meu orgulho aplaudindo seu sucesso, seus discursos de formatura, sua ascensão profissional. Lamentei sua expressão cansada de quem volta do trabalho tarde da noite e ajudei como pude, esperando acordado a sua chegada.

Dei de novo o que tinha para dar, o melhor do que tenho, e já nem lembro o que recebi. Não importa. O amor há de ser isso mesmo, esse dar sem saber o que virá, sem esperar em troca. Essa oferta sem mais, essa certeza de amar e não saber se será correspondido. Se for, muito bem. Se não for, a gente capricha no amor próprio e vai em frente, procurar a nossa turma.

Eu vi de novo todas as nossas lembranças, as que aconteceram e as que nunca se realizaram. Vi você chegar do nada e mudar tudo, ora sorrindo ensolarada, ora chorando devastada. Eu vi você sentindo medo e sentindo amor. Vi você doente e rezei uma vez mais por sua saúde.

Eu fiz tudo isso de novo. Faria para sempre. Vi você chegar e vi você ficar. Assisti a tudo se passar assim, tão bonito, e a desaparecer tão breve, como mensagens que se apagam em segundos, somem sem deixar pistas. Eu também vi você partir.

E lá pelas tantas vi você voltar a seu mundo seguro, blindado. Para junto de quem a fez acreditar que as escolhas acabaram. Para longe de mim. Eu vi.

Eu vi você chegar, vi você estar e vi você passar. Vi tudo isso logo ali… na vida que segue sempre. A vida sempre segue e a gente segue com ela. Vai sentindo amor aqui e ali. Vai vivendo nosso filme que começa para acabar, que acaba para começar de novo. A gente vai vivendo.

André J. Gomes

http://www.revistaletra.com.br/ Jornalista de formação, publicitário de ofício, professor por desafio e escritor por amor à causa.

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