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A resiliência que dói

Após assistir ao filme “Precisamos falar sobre o Kevin”, por alguns momentos me conectei com a personagem principal. Eva sofreu uma tragédia em sua vida. E não carregava apenas a dor de uma grande perda, mas a culpa que toda a sociedade lhe impunha, além da dela mesma. Em suas lembranças, quase sempre o dia fatídico de seu maior trauma.

Eva vive seu dia-a-dia apenas com sua dor e sua perda. Processa ainda o passado em busca de qualquer rendição. Isolada por todos e repelida pela maioria, Eva aceita que batam em sua face, sem absolutamente qualquer reação. Dentre outras situações, quando sua dor é tão grande, a resiliência é apenas um ato natural.

Muitas vezes, o ser resiliente é somente um exercício de sabedoria, de alguém que busca a evolução de si mesmo e a melhora como ser humano. Outras vezes, se torna algo natural, pelo fato do esforço da resiliência ser menor do que a dor que se sente internamente e, portanto, leve diante do sofrimento que se carrega.

Passamos por fases na vida em que nos sentimos desacreditados, desenganados pela vida. Como se esperança não fosse algo possível de se alcançar. Nesses momentos, aceitamos toda ofensa e humilhação sem reação. Insuportável dor que se carrega no peito, que nada do lado de fora é capaz de nos diminuir ainda mais.

Em cada fase da vida, uma idade, uma maturidade e uma sabedoria. Em nossa trajetória somos muitos de nós mesmos. Não é nada fácil olhar para trás. E menos ainda para dentro. Mas como tudo na vida, nada que é fácil parece ter muito valor. Mas quando olhamos para o passado e aceitamos nossos erros, temos mais chances de acertar. E quando nos enxergamos por dentro, como realmente somos, adquirimos a oportunidade de resolver o que nos fere a alma.

A resiliência é algo que chega na vida com o tempo e com a sabedoria adquirida através dos erros cometidos. Em outras palavras, é de tanto sofrer, que finalmente entendemos que aceitar, na maioria das vezes, é o melhor que se tem a fazer. Sem reclamações, sem protestar ou julgar. Se aceita o que dói e por vezes até o que parece ser injusto. Cansados e fadados pela vida, simplesmente aceitamos o que antes parecia inaceitável. Por fim temos a certeza, de que mesmo a dor, quando não rejeitada, passa por nós de forma menos dolorida e também mais rápida.

Quem já sofreu na vida, deve entender bem esses parágrafos. Frase que me chamou a atenção recentemente nas redes sociais foi a seguinte: “Quem pouco tem, se alegra com quase tudo e de nada reclama. Quem tudo tem, não se alegra com quase nada e de tudo reclama”. Já viu um pobre reclamar de garçom? Ou da água da piscina? Quem tem tudo na vida, tem a sorte de não conhecer a dor da falta material, mas sem saber, sofre a ausência de empatia, resiliência e humildade. Como consequência, sofre sem saber por quê. De um jeito ou de outro, ninguém passa pela vida sem sofrimento algum. O que falta apenas é a compaixão pela dor alheia. Sem ela, nos resta somente a resiliência.

Palavra da moda e comum nas redes sociais, poucos são os que a entendem na prática. Mas mais dia, menos dia, todos iremos entender a importância de seu significado. Na vida, tudo que vai, um dia volta. Ação e reação. Ou seja qual for o nome que se entenda para o fato de que aqui colhemos o que plantamos, quer se perceba, quer não.

Por mais injusta que pareça uma situação ou uma fase de dor, vale bem a resiliência estar presente. Antes estar do lado que se aceita demais, do que do lado de que muito se julga. Dor não é agradável para ninguém, mas ao mesmo tempo é inevitável.

Resiliência pode até doer sim, mas nos permite plantar a humildade perante a vida, para se colher no futuro os desejados momentos de paz e felicidade plena.

Carolina Vila Nova

Brasileira, 41 anos, formada em Tecnologia em Processamento de Dados, pós-graduada em Gestão Estratégica de Pessoas. Atua numa multinacional na área administrativa como profissão. Escritora, colunista e roteirista por paixão. Poliglota. Autora de doze livros publicados de forma independente pelo Amazon, além de quatro roteiros para filme registrados na Biblioteca Nacional. Colunista no próprio site www.carolinavilanova.com e vários outros. Youtuber no canal Carolina Vila Nova, que tem como objetivo divulgar e falar sobre as matérias do próprio site.

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