Quando você sente tantos sentimentos diferentes por uma mesma pessoa, se desespera. E odeia.

Quando finalmente terminei de assistir a terceira temporada de House of Cards tarde da noite, saí zanzando no escuro pela casa e então me deparei com a janela do meu quarto totalmente aberta. Não sei exatamente o porquê, mas estamos sempre correndo para fechar janelas abertas, seja pelo mal tempo ou pela insegurança das cidades grandes.

Mas eis que me deparei com uma brisa suave e com um cheirinho pós chuva que na hora me fez esquecer os tais “perigos” da janela e aproveitar toda relaxada os encantos da noite pela vista do meu quarto. Aquele silêncio, calmaria, o vizinho passando pelos canais da tv segurando o controle remoto nitidamente com a cabeça longe dali e alguns poucos carros que passavam devagar pela rua abaixo não me chamaram tanto a atenção quanto ela.

Toda prateada. Tão linda. A Lua naquela noite estava tão grande, tão majestosa que mesmo se a cidade toda apagasse as luzes, tudo ainda continuaria claro. E eis que do nada, imaginando a luz da Lua sozinha brilhando em meio à toda escuridão, ele me veio à mente. Não com aquele costumeiro desdém, mas com uma risada baixinha lembrando de uma de nossas discussões calorosas no meio da rua numa noite também bem bonita. “Tão dramáticos”, pensei rindo. Mas depois fui pega pela surpresa da minha reação. Quando alguém lhe diz, “um dia você ainda vai rir disso”, qual é a chance de você acreditar? Nenhuma.

Ódio é desespero. Quando você sente tantos sentimentos diferentes por uma mesma pessoa, se desespera. E odeia. Odiamos a nossa própria confusão. E no meio de uma briga eu não queria nem saber em ser uma pessoa evoluída, decente e que deseja o bem para o próximo. É muito difícil querer e não querer ao mesmo tempo. Pensar para tentar achar a resposta, doía demais. Então era mais fácil falar verdades infundadas e depois, fugir.

Tudo passa para aqueles que mudam e aprendem com a vida. Nada passa para aqueles que são apegados demais ao passado. Existem pessoas que são cheias de razão, mas que são infelizes e amargas. Querem estar certas para todo o sempre. Por outro lado, pessoas que perdoam, esquecem rápido e logo são felizes de novo.

Quando me vi rindo de um momento que na hora estava tão furiosa, percebi que o melhor que já fiz foi pegar todo o meu acúmulo de rancor e jogar fora. Não é um exercício fácil. Ninguém é muito maduro quando se está apaixonado por alguém que não gostaria de estar. A negação não pode prevalecer, deve-se admitir a verdade para si mesmo. Deve-se admitir que às vezes pessoas que nos tiram totalmente do sério, que nos incomodam e nos fazem sair do nosso estado de espírito normal, são importantes na nossa vida. Nos fazem evoluir.

E após lembrar um pouco da tal noite da discussão maluca, voltei meus pensamentos para a Lua novamente. Ela, que de tão linda, não merecia a visita de militares e americanos bobões, mas sim de bailarinos. De românticos. E do meu vizinho segurando o controle remoto que claramente já estava com a cabeça lá.

Mari Rivas

Bailarina fora dos padrões posturais, atriz sem sucesso, estilista mal compreendida, me formei por fim em Marketing e me especializei em Invenções Tecnológicas e Redes Sociais. Hoje trabalho, estudo e escrevo para falar menos sozinha. Adoro moda e simpatizo com pessoas pelo tênis que usam, antes mesmo de trocar um “olá”. Sou apaixonada por cinema, séries de tv, viagens, artes e animais. Prefiro ser chamada de “admiradora investigativa” do que “stalker profissional”.

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