Turbilhões são belas oportunidades de mudança, e tento acreditar que vêm para o bem. Mas comecei a ter um outro nível de compreensão deste “bem”, que é estar bem com você, e não necessariamente confiar que virá uma situação externa que vai superar aquela em grandeza. O famoso “deixar ir porque vem coisa melhor” pode ser acalentador, mas muitas vezes é uma mentira que nos tira do principal foco, que é o equilíbrio interno.

Enquanto nos consolam(os) com essa esperança, que muitas vezes sequer faz sentido (como dizer que chegará coisa melhor a uma mãe que perdeu o filho, ou a uma família que viu seu investimento de uma vida ser levado pela enchente?), deixamos de dedicar energia à única saída possível, que é o fortalecimento interno. Pode ser acreditando que isso tudo é um karma, e que superando o aprendizado tudo há de ficar melhor no próximo ciclo, ou simplesmente entendendo que, ou tentamos ficar bem, mesmo que tudo se acabe no caixão, ou iremos para a cova bem antes do previsto. Ou, pior ainda, viveremos uma morte em vida.

Não consigo acreditar que viver em um mundo onde não há perdão ou compaixão nem por parte de quem trabalha com desenvolvimento humano é um presente, no sentido habitual. É tipo ganhar meias no natal: você talvez preferisse algo mais simpático naquele momento, talvez um disco, um livro? Mas quando chega o inverno, as meias se tornam extremamente úteis, até para quem tem diversas.

A vida na terra, pra mim, é um par de meias no natal. Pode não fazer sentido naquele momento, mas se você aceita, em alguns meses do ano fica bem, equilibrado, aquecido e feliz!

Prefiro, por enquanto, acreditar nisso, e não num universo meritocrata. “Joguei para o universo e ele atendeu”, dizem uns. Engraçado, eu joguei algumas vezes e ele deixou cair… Então era porque “não era a hora”? Apesar de realmente precisarmos de um tempo de maturação para algumas ideias, a vida é hoje, não é amanhã. Então aguardar pelo dia perfeito, ou achar que ele nunca chegou porque não havia a condição ideal, é um enorme conformismo.

A real é que ou você derrapou pelo caminho, ou simplesmente não tinha nada a seu favor mesmo nessa situação. Simples: não é porque sua intenção é maravilhosa que a vida será mais simples. Que se você tem disposição para ir além de suas questões comuns, as portas do céu se abrirão para mandar ajuda.

Tentamos nos centrar em meio ao caos, achando justificativas plausíveis de “Deus quis”, “não era pra ser”, “tudo tem seu tempo”. Quem define o que é pra ser, senão a comunhão de demanda e necessidade que se comunicam? Às vezes a gente só pede pela comunicação entre as partes, e até isso falha.

Por isso, se tem uma coisa que hoje me dá nó no coração é ver a quantidade de lugares que pedem pra gente escrever, num papel, um pedido para o “divino” te ajudar em “desejos”.

A realidade, pra mim, é que há uma centelha divina em cada um de nós, sim, mas ela não age externamente. Ela é um manual de instruções e tudo o que podemos fazer é rezar para nos conectarmos a ela porque há uma essência que quando seguida, não resolve percalços cotidianos, mas é o caminho mais sem buracos para trafegarmos rumo ao que indiscutivelmente é o melhor pra gente. É nessas horas em que ouvimos nossa intuição que as mágicas acontecem. Mas não era mágica, era só a forma certa de montar a vida!

Quando deixamos lixo pelo caminho, ele vai tornando o trajeto futuro mais nebuloso. E não há, necessariamente, um retorno para voltarmos com uma sacolinha e limparmos a sujeira. Pode até haver, dependendo do tamanho do trecho percorrido ou do tamanho do estrago, mas na maioria das vezes, se ao menos tomamos consciência do lixo que deixamos, o que encontramos é uma bifurcação que nos leva a uma estrada novamente menos suja e esburacada.

A visão que realmente discordo é a de que justiça será feita, receberemos uma segunda chance ou que, especialmente, “o melhor vai acontecer”.

Melhor pra quem? Porque pode ser bom para seu espírito no processo de evolução kármica, mas na vida cotidiana aqui na terra, muitas vezes simplesmente é o pior que poderia ter acontecido.

Então, desculpa, mas para sua felicidade terrena, só você pode fazer o melhor. Não chegará algo, aqui, que te premiará.

Esse melhor, às vezes, é simplesmente aceitar que você tem uma doença terminal sem cura, que o amor da sua vida não voltará, que seu desejo de fazer a diferença e não só ocupar espaço na terra pode não ser exatamente atendido.

A única saída é rezar. Essa reza é a meditação e os bons processos de autoconhecimento, que fazem seu Eu Superior falar mais alto que qualquer outro ser dentro de você. A gente silencia as outras vozes com o silêncio externo, mas também o interno. Parando de se envenenar com alimentos entorpecentes, se conectando à terra e à origem de quem somos. Ouvindo nosso corpo, entendendo como funciona e como podemos cuidar dele sem nos drogarmos com todo tipo de medicamentos e sensações.

Sem sujeira mental, sem sujeira no organismo, com o equilíbrio de seus hormônios, das funções dos órgãos, com o cheiro da terra, você não erra a estrada. E então, não precisa que Deus esteja no quilômetro 427 para fazer um milagre. Até porque, se milagre existe, ele é para poucos e você não vai querer contar com a sorte, certo?

Eu, ao menos, sigo aqui minha estrada certa de que não encontrarei pela frente nenhum tipo de segunda chance por ter consciência de meus erros. O único mérito de aprender, é não errar de novo. Não espero pela interferência externa do divino. Caso contrário, terei que acreditar em um Deus infantil e vingativo, que não deseja a compaixão e o perdão, apenas nos dar uma lição. E se eu acreditar nisso, vou ficar com raiva. Prefiro evitar o estresse.








"Jornalista, produtora e terapeuta em permanente construção. Terapeuta do Deserto é o nome que encontrei para representar meu “eu pensante” em transformação - movimento este que, confesso, não pedi. Mas ao entrar em contato profundo comigo a partir do yoga e depois de outras mil ferramentas de autodesenvolvimento, o processo se tornou sem volta. Compartilho minhas experiências e visão deste despertar, agora aportando na mágica cidade de Alto Paraíso de Goiás.