A Alemanha está vivendo uma crise demográfica crescente e preocupações com o avanço da extrema direita. Portanto, as cidades no leste da Alemanha estão adotando uma estratégia ousada: oferecer moradia gratuita ou quase gratuita por até quatro semanas a quem estiver disposto a experimentar viver na região.

O objetivo é reverter o despovoamento, estimular a economia local e criar comunidades mais diversas e acolhedoras.

Guben: a cidade que virou vitrine da mudança

Localizada na fronteira com a Polônia, a cidade de Guben, no estado de Brandemburgo, é uma das protagonistas desse novo modelo urbano. Com uma população atual de cerca de 16 mil habitantes — quase metade do que era em 1995 — a cidade enfrenta o envelhecimento populacional e a saída de jovens em busca de oportunidades nas regiões mais desenvolvidas da Alemanha.

Dessa maneira, Guben lançou o projeto “moradia de teste” (Probewohnen), que oferece até quatro semanas de hospedagem gratuita para pessoas interessadas em conhecer a cidade e, possivelmente, se estabelecer por lá.

Os participantes ficam em apartamentos reformados e podem participar de atividades culturais e sociais com os moradores locais.

Em 2024, 30 pessoas participaram do programa e seis delas decidiram permanecer na cidade permanentemente. A expectativa para 2025 é ainda maior, com candidaturas recebidas não apenas da Alemanha, mas também da Bélgica, Argélia, Egito e Brasil.

Qualidade de vida, baixo custo e tranquilidade

Anika Franze, uma das novas moradoras de Guben, é exemplo do sucesso da iniciativa. Nascida em Berlim Oriental, ela trocou o caos da capital por uma rotina mais calma e acessível.

Hoje, aluga um apartamento de 100 metros quadrados a menos do que pagava por um quarto compartilhado em Berlim. Ela agora coordena o programa que a ajudou a se mudar.

“Não há trânsito, não há barulho, e você sempre encontra rostos familiares. É uma qualidade de vida que muitas vezes falta nas grandes cidades”, afirma.

Além disso, há cerca de 300 vagas de emprego abertas na região, com destaque para novas indústrias como a fabricante de salames BiFi, uma padaria industrial e uma megafábrica de baterias da canadense Rock Tech, que será do tamanho de 17 campos de futebol.

Envelhecimento, preconceito e o desafio da extrema direita

A estratégia das cidades como Guben vai além da economia. Trata-se também de enfrentar estigmas e barreiras sociais. A região leste da Alemanha tem sido historicamente associada ao avanço da extrema direita.

Em Guben, 42% dos eleitores votaram no partido ultranacionalista Alternativa para a Alemanha (AfD) nas últimas eleições.

Apesar disso, moradores como Franze garantem que a vida real na cidade é muito mais receptiva do que os números indicam. “Há muitos preconceitos e estereótipos sobre o leste alemão, mas as pessoas aqui ainda querem se conectar — talvez só precisem de um pouco mais de tempo para se acostumar com a diversidade”, afirma.

Um estudo recente da Fundação Bertelsmann apontou que a Alemanha continuará dependendo da imigração para suprir sua força de trabalho, e que será necessário tornar as cidades menores mais atrativas para novos moradores — tanto nacionais quanto estrangeiros.

Como participar do programa

Então, se você se interessou em participar do projeto, é necessário se inscrever diretamente com as prefeituras locais ou instituições parceiras. Os selecionados recebem moradia por até um mês, pagam apenas uma taxa simbólica de 100 euros e participam de ações culturais, sociais e até artísticas durante o período.

Além disso, os participantes podem realizar estágios em empresas locais e conhecer melhor a estrutura da cidade — incluindo escolas, postos de saúde e centros comunitários.

Um novo modelo de vida para o futuro

Em tempos de cidades superlotadas, custos elevados e crescente polarização política, programas como o de Guben representam uma alternativa real e acessível para quem busca qualidade de vida, tranquilidade e novas oportunidades.

E para cidades ameaçadas pelo declínio populacional, essa pode ser a chave para a revitalização urbana e cultural.

A experiência dessas cidades alemãs mostra que, com políticas públicas criativas e acolhedoras, é possível transformar desafios em oportunidades — tanto para os municípios quanto para quem decide recomeçar a vida em um novo lugar.

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