Autores

A geração rasa

“Somos a geração do raso, da água pelas canelas. Não mergulhamos fundo. Não sabemos o que é profundidade. Livros curtos, conversas rápidas. Fluidez. A gente acha que é rocha, mas a gente é gelo. E derrete, evapora, desaparece.” (Ruth Manus)

Não são poucos os textos que discorrem sobre o descompromisso emocional das novas gerações, no sentido de que a nova ordem dita o desapego como norte a guiar os passos de quem quiser ser feliz e se livrar de decepções. Tudo está mais fácil, hoje, haja vista as quinquilharias tecnológicas que tornam tudo obsoleto de um dia para o outro. Descarta-se, assim, o que vier, desde objetos até pessoas.

É proibido demorar-se demais em lugares, em sentimentos, sensações, em pessoas. Tudo vai embora, ou seja, se tudo termina, nada deve permanecer como apego. Nessa direção, apenas o superficial se permite, pois aprofundar-se trará, fatalmente, dor. Pessoas vão embora, sentimentos acabam, carinho morre, nada é para sempre, portanto, o caminho mais fácil é seguir sem olhar fundo nos olhos de ninguém, sem acolher, sem aninhar nada nem ninguém dentro de seu coração.

Aconselham-nos a não nos preocuparmos com as dores que não são nossas, com as preocupações de vidas outras, com o que acontece fora de nosso mundinho. A regra é somente oferecermos na medida do que nos oferecem, contendo qualquer vontade de se doar para além do que nos retornam. Fechar a guarda, fechar as portas e as janelas, fechar-se. Afinal, dizem, quanto menos pessoas trouxermos para junto de nós, menos chances teremos de sermos passados para trás.

Nesse contexto, nada é profundo, tudo é superficial e passageiro. Não se aprofundam conhecimentos, amizades, sensações, emoções, sentimentos, relacionamento algum. Nivela-se por baixo tudo o que há, sem que sejam alçados voos que ultrapassem a parca zona de conforto em que incomodamente nos acomodamos. Ninguém parece querer saber, ter, conhecer, amar mais do que o mínimo. Medo de sofrer, medo de se ferrar, medo de viver de verdade.

E, assim, perdem-se oportunidades de se experenciar tudo como realmente é, de se conhecerem as coisas e as pessoas como elas são, de se viverem grandes amores, grandes histórias, grandes aventuras de vida. Porque o medo de sofrer acovarda, apequena, tolhe, restringe, tornando-nos menos amados, menos sábios, menos gente.

Como tão bem coloca Ruth Manus, tem-se uma geração que “trata tudo como descartável e que termina por ser, ela mesma, tão descartável quanto uma garrafa pet. Com a diferença de que a garrafa será reciclada e nós… Nós deixaremos algumas selfies como legado”.

Prof. Marcel Camargo

Graduado em Letras e Mestre em "História, Filosofia e Educação" pela Unicamp/SP, atua como Supervisor de Ensino e como Professor Universitário e de Educação Básica. É apaixonado por leituras, filmes, músicas, chocolate e pela família.

Recent Posts

Setembro promete vitórias importantes para 4 signos que superaram tempos difíceis

Com a chegada do mês de setembro, chega ao fim um ciclo de provações e…

6 dias ago

Mãe se arrepende do nome da filha recém-nascida e enfrenta impasse em cartório

Escolher o nome de um bebê é um dos momentos mais especiais para os pais,…

6 dias ago

A idade em que você vai conhecer sua alma gêmea, de acordo com o seu signo

A maioria das pessoas buscam encontrar a sua alma gêmea. Esse encontro pode acontecer cedo,…

6 dias ago

Ex-ator da Globo chama atenção após harmonização facial e vira alvo de piadas na web

Recentemente, nas redes sociais, o nome do ex-ator da Globo, Jonatas Faro, voltou aos holofotes…

6 dias ago

Sinais de que você pode estar sendo enganado: Como identificar uma mentira

Ninguém gosta de ser enganado, mas reconhecer quando alguém não está sendo totalmente sincero nem…

6 dias ago

Por que cada vez mais casais estão optando pelo “soft swapping”, segundo especialistas

Nos últimos anos, as relações amorosas vêm passando por transformações profundas. Muitos casais têm buscado…

6 dias ago