Você consegue se lembrar do que almoçou há exatamente três anos? Ou do que vestia em uma terça-feira qualquer de 2005? Para a maioria das pessoas, essas lembranças se perdem com o tempo.
No entanto, existe um grupo seleto de pessoas que conseguem lembrar de tudo que já vivenciaram e com detalhes impressionantes.
Esse é o caso de Rebecca Sharrock e Emily Nash, duas mulheres que fazem parte de apenas 0,00001% da população mundial diagnosticada com uma condição neurológica chamada Hipertimesia, também conhecida como HSAM (Highly Superior Autobiographical Memory) — ou, em português, Memória Autobiográfica Altamente Superior.
O que é a Hipertimesia?
A HSAM é uma condição rara em que a pessoa consegue se lembrar com extrema precisão de praticamente todos os eventos da própria vida. De acordo com os especialistas, essas memórias não se limitam a datas especiais ou acontecimentos marcantes — elas incluem detalhes do cotidiano, sensações, sentimentos e até diálogos inteiros de anos atrás.
A memória dessas pessoas funciona como um calendário mental detalhado, onde cada dia pode ser “reassistido” como um filme. Emily revela que sua mente é estruturada por datas, onde ela pode reproduzir e até avançar ou retroceder nas lembranças, acessando-as com nitidez assustadora.
Lembranças desde a infância — até antes de falar
Rebecca relata que consegue se lembrar de eventos desde quando era bebê. Entre as memórias mais precoces, ela cita o momento em que começou a andar — e até de quando foi “perseguida” pela casa pelos pais enquanto aprendia.
“Eu lembro da emoção de caminhar e depois começar a correr. Foi no mesmo dia”, contou.
Embora essa capacidade pareça um superpoder, ela também tem um lado obscuro.
Quando lembrar de tudo vira um fardo
Para Rebecca, a Hipertimesia pode ser tanto uma bênção quanto uma maldição. Ela afirma que cerca de 95% de tudo o que viveu permanece acessível em sua mente, a qualquer momento.
No entanto, o problema é que essas lembranças vêm sem aviso: flashbacks constantes, tanto positivos quanto negativos, surgem ao longo do dia — e da noite.
Um dos maiores desafios relatados por ela é o impacto emocional dessas memórias. Quando se lembra de situações tristes ou traumáticas da infância, por exemplo, ela revive as emoções exatamente como sentia na época.
“Se eu penso em algo que aconteceu quando eu tinha três anos, eu sinto como se ainda fosse aquela criança — mesmo tendo consciência adulta”, explica.
Além disso, Rebecca comenta que muitas pessoas não compreendem sua condição e a julgam por “não conseguir seguir em frente”, como se ela deliberadamente revivesse dores passadas. “É horrível ser uma exceção médica. As pessoas não entendem o que você sente, e não existem tratamentos específicos para isso.”
Existe cura ou tratamento para Hipertimesia?
Atualmente, não existe uma cura para a Hipertimesia, e os estudos sobre a condição ainda estão em andamento. Embora não traga prejuízos cognitivos, a memória excessiva pode afetar a qualidade de vida, sono e saúde mental, especialmente por conta do bombardeio emocional involuntário.
Terapias de apoio psicológico e técnicas de mindfulness são algumas das alternativas recomendadas para ajudar os pacientes a lidarem com os efeitos colaterais da memória hiperdetalhada.
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