“Um amigo prova o seu amor quando faz uso medicinal do silêncio.

Quando  percebe o outro em estado de lágrima, se derrama para dentro e aperta os olhos para transmitir segurança.

O outro sabe que na amizade a dor é ponte para dois abismos.

Se um sofre calado, o outro chora alto, com direito a soluço e apresentação cênica.

A verdade é que a dor tem mania de espetáculo.

Até mesmo o que chora para dentro vai pedir licença para desentupir os olhos no banheiro.

Volta tentando disfarçar a cara vermelha e o inchaço dos olhos.

O outro que era matriz da dor, logo percebe o insucesso da tragédia.

Oferece o abraço como abrigo.

Os dois silenciam… é como se as duas dores dessem as mãos numa ciranda fúnebre.

Nessa hora, só o silêncio faz sentido.

A “não-palavra” não é sinônimo de indiferença, mas de cumplicidade.

O silêncio é a linguagem compartilhada do sofrimento.

O silêncio faz compressa no batimento da dor.

O silêncio é o prognóstico da cura.”








Ester Chaves é uma escritora brasiliense. Graduada em Letras pela Universidade Católica de Brasília e Pós-graduada em Literatura Brasileira pela mesma instituição. Atuante na vida cultural da cidade, participou de vários eventos poético-musicais. Já teve textos publicados em jornais e revistas. Em junho deste ano, teve o conto “Os Voos de Josué” selecionado na 1ª edição do Prêmio VIP de Literatura, da A.R Publisher Editora. É colunista nos sites “Conti outra, artes e afins”, “A Soma de Todos os Afetos”, “Escritos Meus”, “Fãs da Psicanálise”, “A Mente é Maravilhosa” e “O Segredo”.