Cá entre nós, como pode dar certo um amor em que um dos dois não se gosta ou, vá lá, gosta mais do outro que de si mesmo?

Sentir amor por alguém sem amar a si mesmo tem cara de um engano daqueles, cheiro de encrenca, tudo para dar errado. É passar a carroça na frente dos burros, trocar as bolas, meter os pés pelas mãos.

Posso amar de verdade fulano ou beltrano, mas meu amor por mim mesmo chegou primeiro. Já existia antes de expandir e se tornar amor pelo outro.

Pensemos: quando surge alguém interessante no meio do povo, quando aponta ali na frente a pessoa por quem a gente sente um sei lá o quê, uma alegria, uma intuição boa e decide ver no que vai dar, qual é o próximo passo? A gente se cuida, ué! A gente se apronta, se apruma, se quer bem e dá à tal pessoa motivos para ela nos querer também.

Sei não, mas eu tenho aqui pra mim que o primeiro benefício do sentimento amoroso por alguém é acordar ou fecundar em nós algum tipo de amor próprio.

Quem ama quer viver bem, quer ser uma pessoa melhor, esparramar sua alegria para quem estiver perto.

Assim, em meio a sua festa, apresenta ao outro as condições mínimas para ser amado também. E isso é coisa de quem tem apreço por si mesmo, prática de quem se gosta e se respeita.

Cá entre nós, como pode dar certo um amor em que um dos dois não se gosta ou, vá lá, gosta mais do outro que de si mesmo?

Não pode!

Amar é reconhecer em alguém um sentimento que é seu não é de hoje. Mesmo sem saber!

Sei de gente que parecia não se gostar nem um pouco, mas aí encontrou quem lhe gostasse e reaprendeu a gostar de si mesmo para depois gostar do outro.

Vê por aí quanta gente se desdobrando pra chamar a atenção da pessoa “amada”?

Quanto engano! Quanto tempo jogado fora!

Quer despertar amor em alguém?

Goste-se e dê a ele motivos para gostar de você. E isso não se pede a ninguém. Isso cada um faz a si mesmo.








http://www.revistaletra.com.br/ Jornalista de formação, publicitário de ofício, professor por desafio e escritor por amor à causa.