Todo mundo sente que falta alguma coisa. Tem para quem seja o reconhecimento de um trabalho árduo, para quem pareça que o mundo não escuta e para quem só gostaria de se aninhar no silêncio. Tem quem sinta falta do ócio e quem deseje por tudo o que é mais sagrado uma agenda completa.

Para alguns faz falta o amor, para outros o espaço. Uns sentem o buraco existencial de não ter amigos, outros clamam por um pouco de solidão para se encarar no espelho com verdade.

O que falta faz doer lugares que nós que não sabíamos que existiam. É como se, em um pisca-pisca inteiro, uma luzinha só estivesse queimada. E ela, aquela maldita escuridãozinha no meio de tanto brilho, fizesse mais sentido do que centenas de focos de luz. O que falta é maior do que o que há.

Esmagar a frieza do que falta não é fazer inúmeras tentativas de preencher o espaço – atitude essa, aliás, que pode fazer com que ele aumente ainda mais. A luzinha apagada exerce sobre nós quase uma adoração: como se, ao contrário do que acontece na vida real, fosse ela a única que brilhasse.

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Nossas faltas criam uma percepção errada e tola de que aquilo é tudo o que precisávamos para ser feliz. De que abriríamos mão de tudo para que aquela luzinha, tão importante e única, voltasse a brilhar. Ficamos cegos para o movimento da vida: talvez, quando ela se acender, outra vá queimar. E aí aquela passará a ser a mais importante.

Quando temos um amor, nossa falta é de amigos. Quando não temos um trabalho, nossa escuridão é um emprego. Quando nos fartamos da preguiça, nos falta energia para os exercícios.

Exceto pelos monges budistas e pelos extremamente conscientes, é impossível que todas as luzes da nossa vida estejam acesas ao mesmo tempo. Todo mundo sente faltas. Você não é o único que está vendo a ausência de algo, alguém ou algum sentimento como o fim do mundo. Estamos (quase) todos.

O que podemos fazer é olhar com mais carinho para tudo o que está aceso, vibrante e muitas vezes invisível. Estender a gratidão de uma hashtag para um sentimento verdadeiro, sublime, único. Mais importante do que qualquer outro. Porque uma luzinha apagada não pode apagar o Natal que celebra a nossa renascença todos os dias.








É jornalista e trabalha com assessoria de imprensa.