“Tudo já é meio despedida para mim. Uma hora acaba”, diz Fernanda Montenegro

Em recente entrevista ao El País, a celebridade brasileira mais condecorada no mundo, hoje é a primeira atriz do país eleita para a Academia Brasileira de Letras.

Fernanda Montenegro citou William Shakespeare e Pedro Calderón de la Barca para ilustrar o seu momento atual, que diz “enquanto houver sonho, amor e fantasia, haverá esperança”. Para ela não existe essa coisa de despedida dos palcos, se depender dela, não haverá despedida, apesar de, em sua idade, segundo ela, tudo já parecer meio uma despedida.

Amparada pelos sonhos que ainda insistem em borbulhar dentro dela, a atriz não deixa de encarar a dura realidade. Ao El país ela disse:

“Nós, atores e atrizes, vivemos uma espécie de esquizofrenia, de doença que é compreendida, aceita pelo público. E todos viajam conosco no sonho, que só se materializa se houver plateia. Não me refiro à TV, cinema, rádio, ao contato através do eletrônico. Não é isso. Digo das presenças carnificadas de atores e público, dos corpos na vertical, visíveis, do contato presencial entre esses para que a magia e os sonhos se deem. É assim que funciona a nossa enfermaria. Creio que a ABL esteja buscando abrir as portas para outros públicos quando me elege. Mas não podemos trabalhar com escalonamentos. Sempre haverá interesse de quem supostamente não seria um consumidor da arte considerada erudita. Se colocarmos uma orquestra tocando Mozart na favela haverá plateia. Essas fronteiras só existem porque não há oferta, embora exista demanda”.

Para quem trabalhou incansávelmente por 5 décadas, Fernanda até que suportou bem a reclusão imposta pelo covid-19, mas confessa que foi muito difícil ter que deixar a sua rotina para trás e passar meses reclusa no sitio da família.

Porém, os sonhos não a deixaram ficar quieta e junt com a filha, lançou um especial de fim de ano para a TV Globo. Achando pouco ainda lançou dois livros, Fernanda Montenegro: itinerário fotobiográfico (2018) e Prólogo, ato, epílogo (2019), e ainda apresentou duas sessões do espetáculo Nelson Rodrigues por ele mesmo, uma no Rio e outra em São Paulo.

Diante dos aplausos que pareciam intermináveis, ela diz que viveu a experiência mais emocionante da sua carreira. “Eu pensei e disse: “é a minha cerimônia do adeus”, contou emocionada.

Mesmo com a idade avançada, Fernanda não se intimidou e teceu duras críticas a política brasileira, foi atacada pelos defensores do governo, sem dó nem piedade e, mesmo assim, continuou dizendo o que pensava a respeito do que para ela, “são ações irresponsáveis”.

“Este Governo é uma tragédia. Eu vivi a ditadura no Brasil, um período terrível em que tivemos a nossa liberdade cerceada à força por militares. Agora é diferente. O que acontece no país tem o aval de 57 milhões de brasileiros que alçaram este homem [Jair Bolsonaro] ao poder por meio do voto, um dos principais pilares do Estado Democrático de Direito. Precisamos refletir, portanto, por que motivos o elegeram. Não me parece que essas pessoas estivessem satisfeitas com a situação política no Brasil anteriormente. Não vou citar nomes e nem partidos, porque tal processo de desconstrução não é originário de um governo apenas, mas de todos os outros antecessores, desde o início do nosso período de redemocratização. Eram mais críveis do ponto de vista da administração e socorro assistencial, mas não resolveram as nossas questões elementares. O fato é que um país com 33 partidos não tem partido algum, não tem Congresso. Isso só serve para compra, venda e aluguel de legendas”, argumentou ela.

Esbanjando vitalidade, Fernanda não se cansa e demonstra muita vontade de viver para ver o país se reinventar e sair dessa bolha preconceituosa onde se meteu.

Muito consciente a respeito da finitude da vida ela e, da possibilidade de partir em breve para aquele outro lugar, Fernanda disse emocionada:

“Sentirei saudade. Gostaria de levar comigo a minha memória. Eu tive um desmaio (em 2019) durante uma gravação no Sul do país. Eu demorei para acordar novamente. Mas, quando voltei, senti uma paz absoluta que contrastava com todo aquele alvoroço ao meu redor. Neste retorno, havia um hiato. Eu não lembrava do passado e nem do presente. É como se tivesse acontecido um desligamento. Será que a morte é isso? Não sei. E diante deste mistério ficamos especulando para onde iremos. Se eu for para algum lugar, eu queria muito levar a minha memória. Gostaria de fazer-lhe um pedido: que me enviasse uma cópia desta entrevista. Queria tê-la. Porque tudo já é meio uma despedida para mim. Uma hora acaba. Não tem jeito”.

Uma coisa é certa, não há despedida que possa estar a altura de uma mulher com esse nível de consciencia. Mulheres como Fernanda MOntenegro nunca morre, se eternizam. E nós esperamos que ela ainda permaneça por aqui muitos anos, para que não tenhamos que aceitar essa saudade que será inevitável.

Recentemente, ela postou uma homenangem a amiga Natalia Timberg que compartilha com ela tantas memórias em seus maravilhos anos de carreira, ouça a declaração amorosa que a triz fez para a amiga:

*DA REDAÇÃO RH.

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