‘Teremos o março mais triste de nossas vidas’, prevê médica pneumologista da Fiocruz

Em entrevista a BBC News, a médica Margareth Dalcolmo analisa o atual estágio da pandemia de Covid-19 no Brasil e o colapso dos sistemas de saúde que acontece em muitas cidades do país

O que estamos vendo acontecer é a mais pura demonstração da negligência e da irresponsabilidade do governo e da população como um todo. Não existem culpados, todos somos responsáveis pelo estado que chegamos. Em praticamente todos os municípios brasileiros, leitos de enfermaria e UTI estão lotados de pacientes com Covid-19. Não há mais vagas e os doentes não param de chegar.

De acordo com dados das secretarias estaduais de saúde, 17 estados têm ocupação em hospitais acima de 80%, um nível considerado crítico.

Outros oito estados têm taxas que superam os 90% — no Rio Grande do Sul, por exemplo, o número chegou a 100%.

Todos concordam que após um ano, estamos no pior momento da pandemia, e muitos estão dizendo em coro por aí, “eu avisei”, mas na hora de curtir o carnaval, sair sem máscara e negar a gravidade do vírus foram negligentes quando deveriam se proteger.

As perguntas são inúmeras, afinal onde ficarão essas pessoas que precisam de atendimento? E como poderemos conter essa avalanche de novos casos que põe em xeque o sistema de saúde e poderia afetar até mesmo a estabilidade social do país? O que fazer para se proteger num momento tão crítico? Perguntas feitas a pneumologista Margareth Dalcolmo, professora e pesquisadora da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), no Rio de Janeiro.

“Nós estamos num momento muito grave da pandemia no Brasil, com um recrudescimento já materializado daquilo que consideramos uma segunda onda. Isso não nos surpreende, uma vez que as medidas de controle sanitário não foram só controversas, mas também ineficientes por um longo tempo. Nós sabemos também que a única solução possível para controlar a pandemia será a vacinação, e a campanha está apenas no início, numa velocidade muito aquém do desejável.

Para completar, não temos observado um comportamento de solidariedade, não só de todos os cidadãos, mas também de nossas autoridades políticas. Não vemos aumentar uma consciência cívica do que é preciso fazer neste momento, apesar do cansaço de um ano de pandemia. Seria necessário todos nós mantermos comportamentos individuais e coletivos de muito cuidado, com uso de máscara e distanciamento social. Já manifestei de que precisamos de medidas mais drásticas, com o fechamento de muitos serviços, para diminuir a circulação de pessoas e reduzir a transmissão viral”, explicou Dalcomo a BBC News.

Dalcomo diz que desde o inicio do ano o que vimos foi uma série de aglomerações, segundo ela a covid mudou de lugar e agora está entrando dentro de nossas casas. “Nós vemos agora pessoas que ficaram um ano em isolamento pegando a doença. Como isso é possível? Os jovens daquela família estão indo para as ruas e trazendo o vírus de volta.

Ela explica que as festas de final de ano foram trágicas, e que ela se manifestou publicamente diversas vezes dizendo que o Brasil teria o mais triste janeiro de sua história.

E agora, as suas previsões se confirmaram, inclusive com o aparecimento da variante brasileira, identificada na família que viajou ao Japão vinda do Amazonas.

Dalcomo não tem dúvidas de que teremos o mais triste março de nossas vidas. Segundo ela, isso é resultado do Carnaval e do descompasso entre o que os cientistas dizem, e o que as autoridades afirmam.

“Nos últimos dias, ouvimos que não é pra usar máscaras. Não há dúvidas, está demonstrado que a máscara é uma barreira mecânica que protege quem usa e todo mundo ao redor”, se indigna a médica.

Dentre tantos erros cometidos, a médica enfatiza que é extremamente contra a compra de vacinas pelas instituições privadas, para ela essa seria uma decisão imoral.

“É hora de todos colaborarem, fazerem sua parte e terem consciência cívica. Não adianta ser anárquico e desafiar uma ordem biológica que não é favorável a nós. Ou nos comportamos agora ou colaboraremos com a piora dessas estatísticas terríveis, que mais parecem filmes de terror”, finalizou.

*DA REDAÇÃO RH. Entrevista completa no G1.

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