Por: Emma E. Sánchez

Por centenas de anos, psicólogos, psiquiatras, pedagogos, especialistas em desenvolvimento e experiência humanos têm dito que uma criança pode carecer de tudo, exceto da presença segura e amorosa de sua mãe.

A falta de bens materiais, ambientes desfavoráveis, educação e até mesmo a inadequação de um pai, podem ser combatidos de maneira excelente quando a mãe cumpre seu papel de nutrir e treinar os pequenos.

Thomas Verny, em seu livro mundialmente famoso “A Vida Secreta da Criança Por Nascer”, depois de anos estudando milhares de mulheres grávidas e acompanhando a vida de seus filhos durante todo o seu desenvolvimento, descobriu que uma mulher com a atitude apropriada, consciente da vida que leva, e com bastante amor e interesse pelo seu filho, pode superar as condições de vida mais adversas e forjar crianças fortes, seguras e emocionalmente estáveis. Mas uma mãe desinteressada pode ser altamente destrutiva para seu filho em crescimento.

Uma criança pode superar a morte de sua mãe, mas não sua ausência ou distanciamento emocional, especialmente se ela não estiver presente ou com vínculos a ela durante a primeira infância, pois impacta diretamente em seu desenvolvimento afetivo e cognitivo.

Morte não é ausência

Uma criança cuja mãe morreu pode crescer como uma pessoa sem grandes problemas emocionais quando a informação que ela tem sobre ela é emocionalmente saudável; isto é, a criança sabe que ela a amava, que a queria muito e a considerava importante.

A partir dessa consciência, a criança construirá uma imagem sólida, integral e inspiradora que a acompanhará por toda a vida. Uma criança pode superar a falta de sua mãe, mas nunca sua ausência.

Desinteresse e desapego emocional são ausências que destroem

Uma mãe que trabalha longas horas e só vê pouco seus filhos não é necessariamente uma mãe ausente, ela corre o risco, mas pode evitar ser.

É considerada uma “mãe ausente” aquela que:

Abandonou os filhos

E o fez sem mais explicações e pior ainda, se a informação com a qual a criança cresce é negativa, é mal influenciada ou faz dela a responsável pela partida da mãe. Essas situações causam sérios danos emocionais a longo prazo.

Ter períodos de ausência prolongados ou muito frequentes e não os compensar

Hoje, muitas mães trabalham, viajam e, por várias razões, podem não estar tempo suficiente com seus filhos. No entanto, a criança sente e sabe quando não é amada nem de grande valor para sua mãe.

Os presentes caros ou qualquer objeto que é dado à criança não compensa a ausência, apenas a torna maior, porque vem da culpa e não do amor sincero.

Não cria vínculos emocionais

Há mães que, por várias razões, inclusive biológicas e emocionais, não criam vínculos com seus filhos; são distantes e frias. Há algumas que nem sequer falam com seus filhos ou têm contato físico com eles. Este tipo de caso requer uma intervenção profissional adequada com a mãe para evitar danos irreversíveis à criança. Este tipo de ausência é altamente perigoso.

Está fisicamente presente, mas distraída com outros assuntos

Curiosamente, esse tipo de ausência é o mais comum, o mais absurdo e o que atualmente está causando mais danos. São mães que o pouco ou longo tempo que têm com seus filhos “estão e não estão”. Ou seja, elas estão fisicamente presentes ao lado do filho, mas não prestam a menor atenção a eles porque estão com a mente absorvida em outras coisas, como TV, computador ou telefone celular.

Esse tipo de ausência pode ser o menos perigoso emocionalmente, mas está formando uma nova geração de crianças sem limites, sem respeito, sem habilidades de socialização e que apresentam distúrbios de comportamento e hiperatividade.

A estas se acrescentam também as crianças sem amor, aquelas que nunca foram educadas e muito menos disciplinadas com normas e limites sociais. São crianças que cresceram tentando chamar a atenção de sua mãe, e se acostumaram a recebê-la apenas quando fizeram algo grave ou sério o suficiente para afastá-la do seu celular.

Sinais de alerta emitidos por uma criança que se sente abandonada

  • Problemas de sono
  • Transtornos alimentares
  • Desespero
  • Distanciamento
  • Agressão ou muita raiva
  • Tristeza
  • Terror a ser deixado ou de ser separado de sua mãe ou cuidador

Tornar-se consciente

Reconhecer que temos um problema é sempre o primeiro grande passo. Reserve algum tempo para revisar suas ausências, incluindo a origem delas. Certamente você descobrirá que há muito mais profundidade, e quanto mais profundo você cavar, mais determinado será seu desejo de mudar e melhorar.

Imagine-se como um copo sujo que precisa ser lavado e preenchido com o melhor de si.

Expresse seus sentimentos e sua situação

Os filhos, sejam eles pequenos ou não, precisam saber o que acontece, precisam saber da boca de seus pais o que eles significam e seu lugar dentro da família. As crianças veem e ouvem mais do que você imagina, pelo que elas entendem – mas, acima de tudo, pelo que sentem – podem reconhecer quando ouvem mentiras ou verdade.

Fale com elas. O que tiverem de dizer, dirão. Quando se trata de conversar com os filhos, especialmente adolescentes, pode haver palavras duras e ofensivas; ouça, aceite o que têm a dizer e mude se houver algo para mudar. Para os jovens, as promessas não servem, eles querem ações reais e consistentes. Finalmente, pense nisso: o abandono tem um preço alto, mas possível de pagar.

Estabeleça metas, trace um plano, prometa (mas acima de tudo, cumpra)

Às vezes nem é necessário dizer “eu te prometo” porque promessas não cumpridas doem mais. Estabeleça metas com seus filhos somente se você estiver realmente disposta a cumprir e comece com pequenos passos; um de cada vez, isso é muito melhor do que prometer grandes mudanças motivadas por emoção e culpa, mas longe da realidade.

Perdoe e perdoe a si mesmo

Uma história de abandono quase sempre está ligada a outra. Talvez alguém que também nos abandonou ou que nos fez sentir tão pequenos, que nem a presença ou o amor merecíamos, e por isso nos deixaram. Portanto, é bom rever a origem e perdoar, isso irá nos curar e nos deixar em uma posição melhor para atuar e corrigir, quebrando assim essa pesada cadeia de tristeza e solidão.

Sentir-se culpado ou culpar alguém não ajuda, apenas piora a situação.

Respeite e adapte-se

Às vezes, quando reagimos e vemos que estivemos ausentes para nossos filhos, percebemos que já muitos anos se passaram, e a criança de ontem se tornou hoje um jovem ou adulto, e talvez até pai ou mãe. Voltar para a vida de alguém que a construiu sem a sua presença é complexo, mas possível.

Respeite a vida que eles têm agora, seus tempos e caminhos, não critique, adapte-se com amor e esforços sinceros, logo as lacunas serão preenchidas com perdão, alegria e regozijo que só a família pode dar.