Ninguém gosta de ficar remoendo fatos e situações que machucam. Esquecer, deixar escondidinho embaixo do tapete, afastar para longe do pensamento aquilo que incomoda, pode ser cômodo e, temporariamente, parecer resolver. Mas, logo ali, os efeitos e consequências começam as nos cobrar seus preços. Alguns, caros demais.

Todos nós temos nossos monstros secretos. Aqueles que tememos como criança pequena que tem verdadeiro pavor do escuro. Alguns, nos tiram o sono. Outros, completamente do prumo. Quando fechamos nossos olhos os descrevemos com a precisão de um desenhista. Outras vezes, sabemos que eles existem, mas desconhecemos suas faces. Tapamo-nos até o último fio de cabelo para tornarmo-nos invisível aos seus olhos. Mas eles não nos ignoram, não nos poupam, seguem ali, nos atormentando na noite seguinte.

Estas dores e angustias. Esta espécie de insanidade emocional, acaba tendo essas particularidades. Podem até temporariamente atenuar, mas são como feridas que nunca se fecham, que raramente cicatrizam. Continuam doendo e sangrando, como aquele corte em água fria, como uma nova batida em um roxo que ainda está latente, como um tiro preciso, que milimetricamente atinge nossas partes vitais.

Identificar que estas feridas existem, é um passo importante no árduo caminho até a cura. Ter consciência que a cicatrização não acontecerá de um dia para o outro, da mesma maneira. Na sequência, igualmente fundamental, é querer trabalhar estas questões mal resolvidas, sem maquiá-las.

Diagnóstico emocional em mãos, constatação da necessidade de um tratamento e nada ser feito é como se estivéssemos alimentando um tumor, que cresce na velocidade do vento, até que suas raízes tomem conta de tudo, nos tirando a capacidade de respirar, de viver naturalmente. Não existe mágica, as dores não vão sumir num piscar de olhos, as feridas ainda irão sangrar em dados momentos. É esse o caminho para que consigamos nos resignar, nos reciclar. Para que nos reinventemos e comecemos quantas e quantas vezes for preciso. Para que apaguemos rastros e marcas.

Não somos nossas dores, nossos medos e temores. Eles que são partes de nós, momentaneamente. Não podemos deixar que nos definam, que nos limitem, que nos restrinjam. As rédeas de nossas vidas somos nós que temos. O que não nos matou, foi transformado em experiência, nos fortaleceu. Nenhuma história se constrói sem percalços e turbulências. Como descreveu Fred Medeiros: “Para que busquemos o equilíbrio; é preciso da escuridão para que enxerguemos a luz”.








Re Vieira, guria apaixonada pela vida, escorpiana formada em direito, amante das palavras, ama café, gente divertida e vinhos, sou aspirante a escritora, louca de intensidade e sobrenome, tenho 27 anos mas perco a maturidade diante de um sorvete com gomas de mascar, me convidem pra beber e viramos amigos de infância.