Imagine acordar em um mundo coberto por cinzas, sem luz solar, com temperaturas despencando e alimentos desaparecendo rapidamente.

Esse é o retrato sombrio de um inverno nuclear, um evento que cientistas consideram possível caso uma guerra atômica de grandes proporções aconteça.

De acordo com a jornalista investigativa Annie Jacobsen, autora e finalista do Prêmio Pulitzer, um confronto nuclear global poderia matar até 5 bilhões de pessoas em apenas 72 horas — e o pior: o colapso ambiental que viria depois seria ainda mais devastador.

O que é o “inverno nuclear”

O termo descreve as consequências climáticas e ecológicas de uma guerra nuclear. Quando ogivas são detonadas em cidades e áreas industriais, o calor extremo gera incêndios gigantescos. A fumaça e a fuligem resultantes subiriam até a estratosfera, bloqueando a luz solar por meses — ou até anos.

Dessa forma, provocaria uma queda drástica na temperatura global, afetando colheitas, ecossistemas e o abastecimento de alimentos. Regiões férteis como os Estados Unidos, a Rússia e a Ucrânia poderiam ficar cobertas de neve mesmo durante o verão, inviabilizando qualquer tipo de plantação.

“A fome se tornaria a principal causa de morte após as explosões iniciais”, afirma Jacobsen. “Os poucos sobreviventes enfrentariam um colapso ecológico sem precedentes.”

A radiação e o sol como inimigos

Além da destruição direta, a radiação liberada pelas explosões comprometeria a camada de ozônio, expondo o planeta a níveis letais de radiação ultravioleta. Mesmo quem escapasse dos ataques iniciais ficaria vulnerável a doenças graves, queimaduras e à impossibilidade de viver ao ar livre.

Com a superfície inabitável, apenas refúgios subterrâneos teriam chance de abrigar vida humana — e mesmo assim, por tempo limitado.

Os dois países que poderiam resistir

Contudo, há dois países no planeta inteiro que poderiam sobreviver a um cenário de guerra nuclear global: a Nova Zelândia e a Austrália. De acordo com Jacobsen, a localização geográfica isolada desses países e seus padrões de vento no hemisfério sul as protegem parcialmente dos efeitos diretos das explosões e da radiação.

Além disso, essas regiões poderiam manter algum nível de agricultura graças às condições climáticas mais estáveis e à distância dos grandes centros industriais que seriam alvos prioritários.

Portanto, se o planeta tivesse devastado, a Nova Zelândia e a Austrália poderiam se tornar os últimos refúgios da humanidade. Dessa forma, guardando os últimos vestígios de biodiversidade e produção de alimentos.

O perigo real: o erro humano

O risco de uma guerra nuclear não está apenas em ataques planejados, mas também em falhas humanas e técnicas. Jacobsen relembra um caso assustador de 1979, quando o então secretário de Defesa dos EUA, Bill Perry, acreditou por alguns minutos que mísseis soviéticos estavam a caminho.

A ameaça parecia real — até que descobriram que o alerta fora causado por uma fita VHS de treinamento inserida por engano nos computadores do Pentágono. Um simples erro quase iniciou um conflito mundial.

Hoje, com cerca de 12 mil ogivas nucleares ativas espalhadas entre diferentes países, basta uma falha para causar um desastre irreversível.

A importância de conhecer o risco

Especialistas como o cientista atmosférico Brian Toon reforçam a urgência de políticas de desarmamento e diplomacia global. Para Jacobsen, o objetivo de discutir esses cenários não é espalhar medo, mas criar consciência coletiva.

“Meu trabalho é mostrar o que pode acontecer”, afirma. “Só assim podemos agir antes que seja tarde demais.”

Apesar de parecer um cenário distante, a possibilidade de um inverno nuclear é um lembrete de que o destino da humanidade depende de escolhas políticas, tecnológicas e éticas feitas agora — antes que o planeta inteiro mergulhe na escuridão.

Imagem de Capa: Canva