Segundo a OMS, até 2020 a depressão será a doença mais incapacitante do mundo. Em larga medida isso decorre do modo totalmente degradante e padronizado que temos levado as nossas vidas. Desde pequenos somos condicionados a viver de acordo com as normas impostas pela sociedade. Normas impostas por um grupo seleto de pessoas, que não está nem um pingo preocupado com o adoecimento da alma que se observa nesta quadra da história.

Na busca desse ideal de felicidade e sucesso, a maior parte de nós acaba tendo os seus sonhos destruídos, totalmente ou parcialmente, ou deixando-os congelados, a fim de que possam ser “requentados” quando a situação for mais “favorável”. Mas quem controla o tempo? Quem sabe o que nos acontecera? A nossa existência é frágil ou para lembrar o velho safado – “Somos finos como papel” – de maneira que não há sentido algum em deixarmos para depois o que arde mais forte em nosso coração e que de fato nos faz sentir vivos.

Entretanto, nada disso adianta, porque temos que correr, temos que produzir, temos que ter, temos que ter mais e, assim, nos tornamos especialistas em acumular coisas, um monte de tralhas que não serve para nada, apenas para deixar a nossa existência mais pesada. Ao mesmo tempo em que nos tornamos experts em acumular coisas, tornamo-nos subnutridos de amor. Indivíduos carentes de atenção, de ouvidos dispostos a escutar verdadeiramente as nossas angústias, de olhares sinceros que enxergam a nossa alma, de afeto… Carentes de gente.

Sendo assim, de que adianta ter uma vida de sucesso perante os olhos da sociedade e da porta para dentro está destroçado, sufocado com lágrimas silenciosas vindas de olhos mudos? De que adianta viver preocupado em como trocar de carro, em como pagar o VISA ou enfrentar a crise econômica, se o grande monstro que existe é a depressão em que nossas vidas se encontram?

Saramago falava que a vida é assim: uma hora se está, outra hora não se está. E é nesse intervalo de tempo que a vida se processa, e para que ela seja bela é preciso que as histórias sejam contadas ao seu modo, respeitando as suas pontuações, os seus personagens e a sua estrutura narrativa, porque cada ser humano é um universo rico de histórias, algumas se dão em poesia, outras se dão em prosa, mas cada história é universalmente única.

Dessa forma, mais do que qualquer outra pessoa, devemos respeitar a nossa história, o que nos forma e os nossos sonhos, já que nem sempre há tempo hábil para que eles sejam requentados. Muitas vezes sequer há fogo, porque de tanto esperar, fomos congelados. E, então, percebemos que corremos em direção ao nada, não do lado de fora, mas do lado de dentro, apenas por medo de ser fogo no meio do gelo. Apenas por medo de não agradar a sociedade. Tolice de quem não sabe que só é feliz quem para de tentar agradar a plateia, pois, lembrando outra vez o velho Bukowski:

“É quando você esconde as coisas que acaba sendo sufocado por elas”.








"Loucos são apenas os significados não compartilhados. A loucura não é loucura quando compartilhada." Zygmunt Bauman.