Dia destes recebi na minha casa um arquiteto para tirar as medidas para um móvel da sala. Após uma rápida olhada no meu apartamento, ele analisava a estante da sala que seria substituída, intrigado com os objetos nela. Nada de estranho, fotos de minhas viagens, da família, algumas relíquias e badulaques, uma narguilé, alguns DVDs. Nada que exigisse tanta atenção dele. Foi quando ele explicou o que ocupava a sua mente. “Sabe, eu também tenho uma sobrinha da sua idade que decidiu não casar.

Eu acho uma pena.” Encarei atônita aquele estranho. Esqueça o fato de que ele tinha zero intimidade para tal comentário, vamos falar do fato de que ele: A) definiu que eu “decidi” na “minha idade” e para todo e sempre não casar; B) ele achou relevante pontuar que lastimava a minha (não declarada) decisão. Por conta daquele momento, decidi fazer alguns esclarecimentos importantes.

Queridas tias que me veem quase nunca e normalmente num velório, não, eu não estou namorando. Não tenho ficante. Nem rolinho. Calma, tias, tá tudo bem. Não, eu também não me preocupo em ficar pra titia, eu me preocupo em ser a tia que pergunta dos “namoradinhos” no velório de alguém.

Prezados e ilustríssimos colegas de trabalho, eu não vou levar ninguém pro “churras da firma” porque eu não preciso levar ninguém. Ficou combinado de todo mundo levar cerveja, e o meu fardo tá garantido. O outro fardo, aquele de ouvir que ninguém me laça porque eu sou “muito mandona” vocês podem ficar pra vocês. Ah, e eu sou mandona porque eu sou a chefe de vocês, entenderam?

Amigos casados, podem ficar tranquilos, vocês não precisam “me arranjar”. Não sou nenhum buquê de flores para me arranjarem. Tenho certeza que os amigos de vocês são todos muito interessantes, que o tal do primo é um Deus saído direto do monte Olimpo, e que aquele advogado é um “ótimo partido”. Sabe, não quero fazer desfeita, mas eu não gosto muito de recomendação (pra não dizer que fico um pouco ofendida em ser um projeto em construção de vocês). É que recomendação a gente faz pra médico, advogado, ou pra arquiteto, como aquele meu que eu vou ter que trocar. E outra, recomendação normalmente a gente pede quando quer. Percebem a diferença?

Pai, pode ficar tranquilo, eu não preciso de ninguém que me proteja ou cuide de mim. Quer dizer, eu adoro a ideia de ter alguém com esse sentimento mútuo, mas não porque você acha que eu preciso, muito mais do que você pense que eu quero. Veja, o meu carro vai pra oficina por minha conta, eu me levanto das minhas burradas sozinha, e eu contrato todo tipo de “serviço de homem” que eu (depois de muito tentar) não consigo fazer. Tá tudo dominado, papito. Homem não tem que ser mão de obra, adereço ou apólice de seguro, tá?

Mãe, não se preocupe, eu não desisti de ser mãe. Eu só ainda não decidi ser uma. E mesmo assim, tem muitas formas de assumir esse posto sem um casamento. Eu preferia que fosse com pai e mãe juntos. Mas antes das crianças, o “juntos” vai ter que funcionar muito bem. Então nada de pular etapas, combinado?

Amigas que namoram, é claro eu sinto falta de transar com outra pessoa, sim eventualmente eu transo com pessoas com as quais eu não namoro, e inúmeras vezes eu transo comigo mesma. Sabe, eu aprendi tarde os segredos e as maravilhas da masturbação, mas desde então eu decidi que não vou mais dormir com alguém, apenas pela vontade de gozar. Eu sei que um par de pilhas ou a ponta dos meus dedos não substituem um homem ou mesmo o sexo a dois, mas enquanto não houver alguém na jogada, eu vou seguir em um relacionamento sério com o meu clitóris. E a gente é bem feliz juntos.

Conhecidos e estranhos aleatórios, não sou encalhada, quem encalha é barco, e eu me considero um avião (e modéstia a parte, não tem problema a gente gostar da gente mesmo). Eu não sou lésbica, sou solteira, e ainda que fosse lésbica, eu também poderia ser solteira. Não sou crente, não estou pagando promessa, nem me guardando pra ninguém e também não sou contra relacionamentos. Hoje eu sou solteira, como um dia já namorei, e eu amo as duas situações. A diferença são as perguntas impertinentes que recebo apenas quando não estou ao lado de alguém. Entenda que a pessoa mais importante da minha vida, é constante nas duas situações. E eu não tenho nenhum problema em estar solteira, então por que diachos você deveria ter?

E é por isso que peço socorro, eu não tenho um namorado! E a parte mais difícil de não ter um namorado, ainda é ter que lidar com a ideia de que isso é uma obrigação ou premissa básica pra ser feliz. Não se preocupem, eu estou feliz. Eu sou um ser completo, que com sorte vai esbarrar em outro ser completo, e seremos completinhos juntos. Ou não. As escolhas serão minhas com todos os seus ganhos e suas renuncias. Só não atrapalhem quem tá bem com suas escolhas, com a nóia de vocês. “Mas o que você vai fazer no dia dos namorados?”. Vou olhar Game of Thrones tomando um vinho, programação bem digna e apaixonante. Talvez me dê bombons, já que eu me amo todos os dias, inclusive no dia 12 de junho.

Ah, e por falar nisso, feliz dia dos namorados para todos os apaixonados! Fico feliz por quem encontrou o amor dentro de si e em outro alguém. E digo-lhes mais, façam o mesmo pelos solteiros: fiquem felizes por eles, amor próprio é igualmente lindo.

– “O problema é que tá difícil da mulherada arrumar homem de verdade, né? – o arquiteto me interrompe dos meus devaneios, tentando mais uma vez entender a minha premissa de solteira.”

– “É verdade, é difícil arrumar homem. Só cuida que arrumar arquiteto é bem facinho, viu?!”








Uma questionadora fervorosa das regras da vida. Viajante viciada em processo de recuperação. Entusiasta da escrita. Uma garota no divã figurado e literal. Autora do blog antonianodiva.com.br.