Acredito fielmente na reinvenção, na busca de caminhos alternativos , na superação de medos. Muitas vezes nos surpreendemos com a gente mesmo ao descobrirmos que somos muito mais generosos e criativos do que imaginávamos. E quando uso o termo criativo, não me refiro à criatividade artística. Me refiro à capacidade de ressignificar a própria vida. De fechar algumas portas. De abrir outras. De pular janelas quando todas as portas estão trancadas. De começar do zero. De dar um sentido poético à tragédia. De extrair alguma lição importante de uma experiência amarga e humilhante.

Vivemos num tempo de certo perfeccionismo emocional. Ou pelo menos , tentamos fingir para nós mesmos e para os outros que tudo é superável mediante uma grande dose de esforço e capacidade de reinvenção.

Acredito fielmente na reinvenção, na busca de caminhos alternativos , na superação de medos. Muitas vezes nos surpreendemos com a gente mesmo ao descobrirmos que somos muito mais generosos e criativos do que imaginávamos. E quando uso o termo criativo, não me refiro à criatividade artística.

Me refiro à capacidade de ressignificar a própria vida. De fechar algumas portas. De abrir outras. De pular janelas quando todas as portas estão trancadas. De começar do zero. De dar um sentido poético à tragédia. De extrair alguma lição importante de uma experiência amarga e humilhante.

Por outro lado, creio que nem tudo seja superável. Sim, algumas dores abrem feridas profundas. E mesmo quando estas se fecham, deixam grandes marcas. Acreditar que certas lembranças tristes nunca mais vão voltar para tomar um cafezinho com a gente numa tarde solitária ou numa noite insone é uma aspiração nobre. Mas raramente se concretiza. Como diria Emily Brontë em seu célebre romance gótico “O morro dos ventos uivantes”, ‘pensamentos são tiranos que vão e voltam para nos atormentar”.

Podemos colar louças que se quebram e remendar roupas que se rasgam, mas as marcas ficarão ali a nos olhar. Acredito que algumas pessoas tenham realmente mais facilidade para superar certas dores e desviar o olhar das cicatrizes mais prontamente. Mas , na maioria dos casos , olhamos sim para tudo aquilo que nos fez sofrer. Com isso, não quero dizer que devamos nos agarrar ao passado e deixar de viver o presente. Não quero dizer que devamos nos tornar obcecados e paralisados por tudo aquilo que já passou.

Sim, creio que devamos deixar o passado ir. Mas também não devemos nos sentir culpados ou derrotados se de vez em quando uma lembrança feroz nos abraçar de supetão. Sim, elas farão isso. E depois de alguns momentos amargos , nos resta voltar a sorrir com a placidez daqueles que entendem que a vida não é perfeita, mas que mesmo assim vale a pena vivê-la com intensidade e sem temor de admitir as limitações, tanto as nossas como as da própria existência.








Viciada em café, chocolate, vinho barato, filmes bizarros e pessoas profundas. Escritora compulsiva, atriz por vício, professora com alma de estudante. O mundo é o meu palco e minha sala de aula , meu laboratório maluco. Degusto novos conhecimentos e degluto vinhos que me deixam insuportavelmente lúcida. Apaixonada por artes em geral, filosofia , psicanálise e tudo que faz a pele da alma se rasgar. Doutora em Comunicação e Semiótica e autora de 7 livros. Entre eles estão "Como fazer uma tese?" ( Editora Avercamp) , "O cinema da paixão: Cultura espanhola nas telas" e "Sociologia da Educação" ( Editora LTC) indicado ao prêmio Jabuti 2013. Sou alguém que realmente odeia móveis fixos.