Como é difícil tolerarmos as frustrações que são tão recorrentes em nossas vidas. Como custa darmos tempo ao tempo para que possamos compreender os ensinamentos que encerram nossos reveses. Embora saibamos da necessidade de atravessarmos os problemas para nos fortalecermos, as pancadas que levamos sempre nos derrubam, levando-nos a sentimentos de revolta e de autopiedade, o que não nos serve de nada.

Criamos expectativas demasiadas acerca de tudo, antecipando mentalmente um futuro ideal que, muito provavelmente, corresponderá minimamente ao real que nos aguarda. Sim, a esperança e as projeções de um futuro melhor devem nortear nossas ações presentes, mas no sentido de embasarem as atitudes que adotamos para colhermos um amanhã melhor e não como as únicas formas de sermos felizes. Se forem tidas como únicas, nada além daquilo nos restará, no caso de não acontecerem.

Quando algo não dá certo – seja um emprego, um relacionamento, uma compra, ou um projeto qualquer -, num primeiro momento caímos alquebrados na revolta inconsolável, sentindo-nos incompetentes, impotentes e desmerecedores de receber algo de bom na vida, como se fôssemos a pessoa mais desafortunada dentre todas. Encarar esses momentos de dor será então preciso, para que não nos demoremos além da conta nos subterrâneos dessa escuridão paralisante, ou fatalmente nos acostumaremos com a tristeza, deixando-a tolher de nós a necessidade do reerguer-se e do prosseguir.

Teremos que nos guiar por uma esperança lúcida, pautada pelas possibilidades reais do que possa vir a acontecer, conscientes das limitações que cerceiam nossos desejos, ou estaremos sempre desgostosos e descontentes com o que já temos e conquistamos, com o que de fato é nosso e faz parte de nossa jornada.

Da mesma forma, precisaremos não ignorar o que ainda sobrou daquilo que se perdeu, de tudo o que se foi, visualizando novas possibilidades de caminhar e de ser feliz, se possível ainda mais feliz, a despeito do que não estará mais conosco nesse tempo que nos resta.

Nutrirmos a certeza de que aquilo que não deu certo ainda será algo por que agradeceremos não se trata de consolo bobo, pois em muito nos ajudará para que não estacionemos o viver, o lutar, clareando nossa visão frente à vasta amplidão a que nossas esperanças podem se estender. As decepções virão, trazendo consigo toda a tristeza que em si carregam, isso é fato.

Caberá a nós, portanto, e a ninguém mais, digerir as frustrações, filtrando a dor que é tão delas – e não nossa -, realimentando e redirecionando as esperanças, os sonhos, e a certeza de que nossa vida seguirá sempre em frente, apesar de tudo, porque fomos todos feitos para viver e sobreviver, na inesgotável busca pela felicidade que nos aguarda.








Graduado em Letras e Mestre em "História, Filosofia e Educação" pela Unicamp/SP, atua como Supervisor de Ensino e como Professor Universitário e de Educação Básica. É apaixonado por leituras, filmes, músicas, chocolate e pela família.