Ritmo do canto Gregoriano diminui ansiedade de mães

Por Glenda Almeida – [email protected]/ USP

Os tons no canto gregoriano não sofrem tantas oscilações, resultando em ritmo que acalma

A melodia monofônica do canto Gregoriano, também conhecido como cantochão, diminui o nível de ansiedade de mães que têm seus filhos hospitalizados.

Percebendo que a música tem a capacidade de permear o cotidiano do ser humano, a enfermeira Ana Paula Almeida comprovou, em sua pesquisa de mestrado, que o ritmo do canto Gregoriano pode ser utilizado como prática alternativa em ambientes clínicos, auxiliando no enfrentamento da dor, do medo, da angústia e da insegurança vivenciados pelas mães de crianças que estão em tratamento no Hospital.

Segundo Ana Paula, o cuidado que o Hospital precisa ter com o estado emocional da mãe deve ser equivalente ao cuidado prestado à criança.

“Quando a mãe está nervosa, ansiosa e impaciente, ela transmite esses sentimentos para o filho, o que pode prejudicar a recuperação da criança”, explica a enfermeira.

Por meio de sua pesquisa, Ana Paula evidencia que as práticas alternativas são uma forma eficiente de “olhar com mais atenção para essas situações que influenciam no tratamento”. “Essas práticas são mais acessíveis e baratas, e trazem benefícios para os pacientes”, completa.

A fim de verificar se o ritmo do canto Gregoriano poderia realmente servir como prática alternativa para tranquilizar as mães, a autora da dissertação Canto Gregoriano como redutor de ansiedade das mães de crianças hospitalizadas: estratégia para a enfermagem comparou o nível de ansiedade de 28 mulheres, cujos filhos estavam internados em uma unidade de especialidades pediátricas, antes e depois de ouvirem sete músicas do estilo escolhido para o estudo.

O estudo constatou, estatisticamente, que houve redução do nível de ansiedade das mães após a audição do canto GREGORIANO.

Segundo Ana Paula, isso acontece por causa do perfil musical deste canto, e não por causa do conteúdo. O ritmo do estilo musical é marcado pela tranquilidade, mansidão e calma, que já eram características atribuídas a esse gênero desde a Idade Média. “Por ser uma música de cunho religioso, algumas mães que não eram católicas se recusaram a ouvir, apesar de ser explicado a elas que a pesquisa se relacionava ao estudo do ritmo musical”, aponta.

O “mar calmo”

De acordo com a enfermeira, as mães que participaram da pesquisa concordaram que o canto Gregoriano é como um “mar calmo”, e como disse uma das mães, “realmente faz a gente se sentir melhor”.

A pesquisadora esclarece ainda o por quê da diminuição da ansiedade, explicando que “ao ouvir o canto, você se deixa envolver pelo ritmo, e sua respiração também. E sendo uma música monofônica, sem muitas oscilações de tons, a respiração começa a ficar tão calma quanto o som que está sendo ouvido, promovendo um relaxamento e, consequentemente, reduzindo a ansiedade”.

Depois de comprovar a eficácia dessa prática alternativa no hospital onde foi realizada a pesquisa inédita, Ana Paula propõe que sejam pensadas diversas formas de aplicação da música em ambiente hospitalar, já que é um modo acessível e inovador do cuidar.

Segundo ela, que conhece as possibilidades de expressão, união, alegria, encontro e cuidado promovido pela música, a prática é capaz de contribuir para o bem estar dos pacientes, acompanhantes e profissionais da saúde.

Medição da ansiedade

Para medir o nível de ansiedade, Ana Paula utilizou o Inventário de Diagnóstico de Ansiedade Traço Estado (IDATE), que consiste em um conjunto de questionários autoaplicáveis.

As perguntas que se referem à ansiedade ‘Traço’ lidam com as diferentes reações de cada pessoa diante de uma situação geradora de ansiedade.

Já as referentes à ansiedade ‘Estado’ dizem respeito a uma condição temporária e transitória em que a pessoa vive sentimentos desagradáveis de tensão percebidos conscientemente.

No caso da pesquisa de Ana Paula, o questionário mostra o nível de ansiedade da mãe que enfrenta a dor da hospitalização de um filho.

As mães que participaram do estudo ouviram as músicas por meio de fones de ouvido, e estavam junto ao filho em quarto individualizado durante a hospitalização.

Foram orientadas a escutar os cantos da maneira mais confortável possível. Este procedimento foi realizado duas vezes com cada mãe, e as músicas foram ouvidas na mesma sequência por todas elas.

A dissertação foi defendida da Escola de Enfermagem da USP, no dia 15 de setembro de 2010, e orientada pela Professora Maria Julia Paes da Silva.

Mais informações: (11) 3069-8941, (11) 3069-8943, email [email protected]

Publicado originalmente por USP. Da REDAÇÃO RH.