“Para conhecermos os amigos, é necessário passar pelo sucesso e pela desgraça. No sucesso, verificamos a quantidade, e na desgraça, a qualidade.” Confúcio, filósofo e pensador chinês, estava particularmente inspirado ao dizer tal frase, uma afirmativa altamente verdadeira.

Milan Kundera, escritor tcheco, escreveu em seu livro, “A Identidade”, que’ a amizade é indispensável para o bom funcionamento da memória e para a integridade do próprio eu.” Chama os amigos de ‘testemunhas do passado “e diz que eles são nosso espelho, que através deles podemos nos olhar. Vai além e diz que “toda amizade é uma aliança contra a adversidade, aliança, sem a qual o ser humano ficaria desarmado contra seus inimigos.”

Desde a tenra idade, somos apresentados a pessoas, o tempo todo. Na infância, formamos nossos primeiros laços, de forma leve, simples, sem cobranças. A pureza tão comum aos infantes, me fascina. De fato, nós, adultos, é que complicamos as coisas. Fazemos e dizemos coisas das quais nos arrependemos, mas nosso orgulho, nosso ego, nos impede de voltarmos atrás de nossas decisões. Escondemos nossos sentimentos, dançamos a ciranda do desapega e seguimos no trem azul com o gelo interno pungente em nosso coração. Aquele que afasta as pessoas por simplesmente ter medo da entrega.

O mundo, é um lugar assustador. Nos sentimos sozinhos, mesmo em meio à multidão.

Temos que passar uma imagem de segurança que às vezes nem possuímos, pois estamos em constante mutação. Somos seres pensantes, passíveis de erro. Logo, é comum a dúvida, a insegurança. Este refrigério interno, muitas vezes, não conseguimos extrair de um familiar, que deveria ter esta identificação natural conosco, dada a herança genética.

Mas toda receita de bolo, precisa de ingredientes diferentes. Senão, só teríamos bolo de fubá, nunca de chocolate ou de coco. É aí que o elemento surpresa, a cereja do bolo, nos apresenta ao sabor do amor numa xícara de amigo. Raro haver conexão amorosa entre duas pessoas, mais raro ainda é encontrar alguém que queira vestir a camisa da torcida organizada de melhores amigos. Porque amizade, é encontro, é troca. É acerto na loteria.

Faça uma lista mental de 10 pessoas as quais confia piamente seus planos e segredos. Não vale parente! Aposto que, ao chegar lá pelo número 4, você vai pensar duas, três vezes, antes de escrever o nome da número 5. Daí, você vai lembrar dos momentos que fazem com que aquela pessoa mereça estar na tua lista seleta de pessoas realmente especiais.

Os amigos verdadeiros estão contigo no melhor e no pior. Eles conhecem seus defeitos, te enxergam por trás da tua máscara que você usa perante a sociedade, e estarão ao teu lado, o apoiando e incentivando sempre a conquistar a melhor versão de si mesmo.

Há amigos que te passam uma mensagem por semana, há amigos que te mandam uma mensagem diária. Há amigos que te enviam áudios, há amigos que te fazem uma vídeo chamada. Não importa qual seja a forma de comunicação que tenham, mas o quanto de envolvimento e verdade compartilham entre si. O quanto estão dispostos a fazer concessões e sacrifícios em nome da amizade.

O verdadeiro amigo, é aquele que chega antes na tua casa e vai lavar a louça contigo antes dos convidados chegarem. É aquele amigo que sabe que você não tem dinheiro para o lanche e te surpreende. É aquele amigo que acredita nos teus sonhos, mas que te coloca para fora do trilho, para que você não seja atropelado por suas próprias expectativas.

É aquele amigo que vai ter coragem de replicar o que você fala, quando não concordar contigo. Ele vai te fazer ouvir aquilo que você mais teme, vai forçar a abertura das tuas pestanas até se partirem os antolhos de teus olhos.

O amigo, quando é leal, te corrige no particular, te exulta, em público. Ele vai comer pão com mortadela contigo até você subir de nível e comer caviar no café da manhã. Não é um amigo que te acompanha unicamente na risada, mas caminha ao teu lado, em silêncio.

É aquele que, de antemão, se oferece para ser ombro quando enfrenta uma dura prova, adivinha teu pensamento sem que tenha ao menos murmurado sobre.

É aquele, que na madrugada, ouve teu choro, segura tua mão, e diz: “Vai dormir, eu estou aqui”. Vai falando contigo até tua alma encontrar calma, repouso, conforto. Silencia os teus pensamentos e diz que amanhã, será um novo dia. Não. Ele não está falando por falar da boca para fora, ele sabe que o amanhã, é incerto. Ele sabe que o sol não vai brilhar para você como brilha para tantos outros. Mas não importa a intensidade da Estrela Maior, porque ele moverá toda a Galáxia para, no dia seguinte, tomar um café ao final da tarde contigo, somente para te arrancar uma gargalhada ou oferecer o ombro para ser encharcado por tuas lágrimas.

O tempo não depende dele, mas o calor do seu abraço, terá o poder de congelar e encapsular, ao menos por um instante, todos os seus medos. Cada conquista será celebrada, cada perda, será lamentada, na mesma intensidade. Não existe amizade verdadeira por conveniência. Não existe amizade verdadeira se não há compreensão mútua, respeito às idiossincrasias do outro.

O amigo verdadeiro te aceita como você é, mas ajuda a moldar o teu caráter. Ele te faz crescer em espiritualidade. Ele te leva para junto de Deus. Porque ele sabe que todas as coisas são passageiras, ele compreende a brevidade da vida como um período de aprendizado e troca. Amigo verdadeiro não é superficial. Ele nada contigo nas águas turbulentas. É fácil dizer-se amigo quando tudo está indo bem. Quando se tem estabilidade financeira, carro do ano, casa luxuosa, boletos em dia.

É fácil ser amigo de mesa de bar, de tapinha no ombro, de selfie perfeita. Mas quando a festa acaba, a luz se apaga, é na bagunça externa, na embriaguez interna, sentado lado a lado contigo, que se encontrarão os verdadeiros.

Aquele amigo que, no meio de uma crise existencial tua, passado alguns momentos que se despediram por chamada ou texto, te surpreende com aquela frase: “Abre aí porque estou aqui na tua porta”. Vocês se olham, ele abre os braços e lá você se aninha e desaba.

Amizade, é dom de Deus, é entrega, presente, é sintonia. É alegria compartilhada, é vibração máxima, é choro que cala, mas ampara. É silêncio, que grita. Amizade verdadeira é coisa rara, pois é troca de almas que nasceram para serem âncoras, porto seguro no vendaval, na ventania. É solo seguro, mesmo em areia movediça. É água e óleo, fogo e água, vivendo em perfeita harmonia.

Quer conhecer de fato um amigo? Repare como ele te trata, mesmo quando não tem nada a oferecer, além da sua própria companhia. A vida vai nos apresentar muitas pessoas, e, cada amigo novo que ganhamos, nos aperfeiçoará e nos enriquecerá de alguma maneira. Descobriremos mais de nós mesmos a partir, de alguns. Haverá os que irão nos decepcionar, nos trair, nos colocar em duras provas, mas, de alguma forma, nos serão úteis, pois nos desafiarão e nos amadurecerão.

Deus está atento a cada folha que cai no chão. Nada acontece sem que Ele permita. Nada dá certo no tempo errado e ninguém vai e tampouco vem, em vão. Alguns encontros virtuais podem se tornar mais reais e até extra-sensoriais. Há conectividades misteriosas que não explicamos através da Ciência, simplesmente abre-se um portal invisível e estes encontros, se dão.

Há um filme muito interessante sobre estes encontros improváveis. O filme “Inimigo meu”, de 1985, dirigido por Wolfgang Petersen, fala sobre a tolerância mútua num planeta inóspito. Este filme é fascinante! Mas muitos não compreendem a real mensagem e não enxergam as várias camadas que o filme contém. A mensagem entre dois homens bem diferentes, forçados a conviver no mesmo espaço, nos traz uma profunda reflexão acerca de nós mesmos Um piloto terráqueo, Willis Davidge, interpretado por Dennis Quaid, e o alien “Jerry” Shigan, vivido por Louis Gossett Jr.

O filme, é talvez uma fábula, já que a história é narrada pelo terráqueo. Sem me atentar muito aos detalhes, mas resumidamente, a trama acontece durante um embate entre as duas naves. Ambos acabam caindo neste planeta inóspito, e percebem que só poderão sobreviver se aprenderem a se respeitarem, se tolerarem e passarem por cima dos conceitos pré-estabelecidos entre si.

Aqui, o que permeia a história desde o início, é nossa intolerância com aquilo que não podemos explicar, nem moldar, de acordo com nossas concepções do que é certo e errado. Ao se verem no mesmo barco, eles deixam de se ver como incongruentes e percebem que possuem mais pontos em comum do que contras, pois são apenas dois seres, tentando sobreviver num mundo naturalmente hostil. A partir daí, surge a empatia, e passam então a se tratarem com gentileza, pois a guerra não é entre eles, mas com os assustadores monstros internos, que, por pressão externa, ditam as regras de que só os melhores, vencem.

Somos breves. Logo, é petulância pensar e agir como se fôssemos eternos. Precisamos podar nossas falhas, cortar as ervas daninhas enraizadas na alma que impedem que floresçamos e perfumamos àqueles que estão ao nosso redor. Ao enxergarem a brevidade da vida, percebem que todo o direcionamento de tempo e de energia, estava sendo canalizado na direção errada. Não há como um ser, ser superior a outro, pois somos feitos de inúmeras partículas diferentes que formam e constroem nossas aptidões, nossas características. Portanto, somos seres passíveis de falhas. Vendo por este prisma, atinge-se o amadurecimento emocional, que enxerga o outro como aliado e não oponente.

Somos todos forasteiros nesta jornada. Seja na sombra, castigados pelo mormaço de dias acalorados ou no lumiar traiçoeiro de luares enevoados pelo lacrimejar de olhos de desespero, ao clamar para o alto, de joelhos dobrados, enquanto no solo não há perspectiva de dias fartos e certeiros, Deus se inclinará para ouvir sua alma ,e, sem data nem hora certa, do céu enviará um anjo, disfarçado de amigo. E este, será teu companheiro de fato, e contigo, selará o contrato de amizade, em forma de amor verdadeiro.

A belíssima frase de Mário Quintana explica: “A Amizade, é um amor que nunca morre”.

Tudo na vida é passageiro, mas as pessoas que tocamos, serão para sempre eternas, ainda que um dia a vida trace caminhos diferentes. Pois o que une dois corações que escolheram ser amigos, não é medido pelo bem físico, mas pelo recôndito profundo de sentimento onde brota o amor. O amor, é atemporal. Amigos irmãos serão, para sempre, amigos.








Sou jornalista de espírito vintage, que ama compor músicas ,pintar, e escrever sobre assuntos voltados à compreensão das relações humanas e da profundidade da alma. Acredito que as duas maiores forças que possuem o poder de mudar o nosso dia a dia são o Amor e a Empatia. Grata por compartilhar com vocês esta jornada.