Faz algum tempo que eu comecei a despertar para a questão do empoderamento feminino. Não precisamos mais ser “belas, recatadas e do lar” (desculpe, precisei ressuscitar esse jargão).

Mulheres agora devem ser inteligentes. Ter uma carreira bem-sucedida. Adorei. Sempre me identifiquei com essa “nova” visão, que nos incentivava a ser independentes. Mas de uns tempos para cá, eu comecei a me incomodar.
Virou “moda” ser uma mulher empoderada. E por um lado isso é muito legal – podemos falar sobre isso. Discutir o papel que tem sido atribuído à mulher e repensar o que nos é entregue como “certo”. Podemos parar e pensar: afinal, o que é ser mulher para mim?

O que eu estou disposta a aceitar e o que vou dizer “muito obrigada, mas isso não é meu”. O fato de estarmos sendo impulsionadas a fazer isso é ótimo. O outro lado da moeda do modismo é que me preocupa. Parece que se tornou ainda mais difícil ser mulher. Comecei a prestar atenção aos novos ideais que eu me pegava admirando (*cof*instagram *cof*).

Mulheres “fitness”, mulheres que cuidam da aparência, da alimentação, fazem exercício, são inteligentes, têm uma carreira de sucesso e uma família bonita. E um cachorro. Para ser completo, tem que ter isso também.

Mulheres empoderadas também se aceitam completamente como são. A aparência não importa, que é isso, menina! Ela é só resultado de uma vida saudável. O que importa é o que tem dentro.

Então, não ouse se preocupar com a aparência. Ela melhora quando nos amamos e nos aceitamos. Mas, caso tenha algo que a incomode muito, aí você pode mudar. Com uma cirurgia, uma massagem, um remédio. Se você fizer esse procedimento para “você mesmo”, aí tudo bem. O que não pode é se preocupar com a opinião de terceiros. Mulheres empoderadas se importam com elas mesmas! Da para ver o nó? A mistura de informações?

“Não me importo com aparência. Eu me cuido por saúde. Ainda não tenho o corpo que eu quero. Então, vou mudar. Intervenção aqui e ali. Beleza, é porque eu quero.” Mas porque eu quero isso mesmo? Vendem para nós o discurso que todas nós podemos ser como elas – mulheres instagram (ou revista, televisão…). E se não somos, é porque não estamos nos dedicando o suficiente. Afinal, ter uma dieta totalmente balanceada é muito simples. É só se programar, fazer as compras no final de semana, deixar de ser preguiçosa e cozinhar. Ser uma mulher “desencanada” da aparência é muito fácil, é só mandar esses ideais para longe.

Afinal, eu quero ser uma mulher empoderada ou não? Mulheres empoderadas aceitam o seu corpo como ele é – ficar se criticando e obcecada com celulite é muito anos 2000.

Mulheres empoderadas se amam “como são”. Desde que sejam bem-sucedidas. Bonitas. Desde que se cuidem, não se importem com a opinião dos outros. Não dependam de ninguém para se sustentar (porque isso é coisa da época da vovó). Mulheres empoderadas pagam suas contas.

Ser mulher se tornou exaustivo. Não era para ser sobre se libertar? Sobre poder avaliar o que importa para mim?

Ao invés disso, ganhamos uma nova sentença. E é só olhar, que vamos ter mais do mesmo: mulheres que se encaixam no padrão de beleza e ALÉM disso, são inteligentes, independentes e têm sucesso. Agora sim, ficou impossível.

O que me incomoda é a questão do dever. Entre tantas mensagens que recebemos, não sobrou mais espaço para o “ser”. Não tem mais lugar para as inseguranças, questionamentos, para o não saber. Não tem mais lugar para quem é incompleto, imperfeito, para quem ainda está em busca de quem realmente é. Para quem está se descobrindo e se questionando.

E o problema com isso?

Somos todos assim, em algum nível: com mais questionamentos que certeza. Com várias inseguranças. Porque se tem algo com que podemos contar é que a certeza é escassa.

Não é só com relação ao universo da mulher que isso acontece. Vale pensar: o quanto o empoderamento foi sequestrado de nós e distorcido por essa imagem de uma mulher ainda mais perfeita. Se a perfeição é impossível, imagine o que o seu “aperfeiçoamento” não é.

Vamos pensar sobre o que significa ser empoderada para nós mesmas. Ao invés de nos tornarmos reféns de mais um padrão.

Mulheres empoderadas têm inseguranças. São um trabalho em progresso. Tem valor independente dos padrões (estéticos e ideológicos). Afinal, são seres humanos. Perfeitos à sua própria maneira. Basta divulgarmos essa ideia de perfeição.








"Por acreditar no potencial das pessoas em evoluir e em se renovar, além de trabalhar como psicóloga clínica, escreve textos sobre auto conhecimento e desenvolvimento pessoal"