Com a passagem do tempo, com os limites de ambos já explícitos e entendidos, decepcionar-se terá outro peso: o peso do amor-próprio.

Nenhum relacionamento é fácil, seja amoroso, de amizade, de trabalho, seja qual for. Dois mundos se encontram, duas visões de vida e dois universos, muitas vezes opostos. E então tudo isso tem que caber em um mesmo ambiente, e então vêm os choques, os percalços, as dicotomias, os desencontros. Caso ninguém abra mão de nada, tudo desaba.

Ninguém consegue relacionar-se com o outro, caso queira que prevaleça somente o seu lado, as suas ideias, as suas vontades. É preciso aparar arestas, é preciso diálogo constante e, sobretudo, é preciso se colocar no lugar do outro. É preciso enxergar a si mesmo com os olhos do outro, porque ele é parte importante nisso tudo. Quando nos relacionamos, não estamos mais sozinhos e isso requer olhar para fora e escutar vozes que não a sua.

Até que ambos possam se alinhar e se conhecer melhor, é normal haver desavenças e discussões, porque é assim que os limites se colocam, é assim que as verdades vêm à tona.

A gente não se mostra de início, ou seja, é caminhando junto que a gente vai ficando mais seguro para se abrir e para opinar, tanto sobre os contentamentos quanto sobre os descontentamentos. Caminhando é que os laços se fortalecem ou enfraquecem. Caminhando é que a gente vai percebendo se o outro vale ou não a pena.

Nesse caminho, logicamente, as pessoas falham, erram, cometem equívocos e se magoam. Será um dos momentos mais difíceis, porque teremos que ter o entendimento de que o outro ainda está nos conhecendo e, portanto, ainda não sabe com clareza o que pode nos machucar. Nosso papel será deixar bem claro quais sãos os limites de nossa dignidade, para que o outro possa se ajustar. Não se trata de aceitar tudo, mas de mostrar, sim, seu descontentamento, dando nova chance, se possível.

No entanto, com a passagem do tempo, com os limites de ambos já explícitos e entendidos, decepcionar-se terá outro peso: o peso do amor-próprio. Chega um momento em que o outro erra, mesmo sabendo que nos machucaria, mesmo já nos conhecendo bastante. Então, caberá a nós a tomada de decisão – e que seja em nosso favor, já que o outro deixou de nos olhar.

Afinal, como dizem, a partir do momento em que você continuar se decepcionando com a mesma pessoa, a culpa nem mais será dela.








Graduado em Letras e Mestre em "História, Filosofia e Educação" pela Unicamp/SP, atua como Supervisor de Ensino e como Professor Universitário e de Educação Básica. É apaixonado por leituras, filmes, músicas, chocolate e pela família.