Somos feitos de ‘agora’

Hoje as coisas são bem diferentes, imagine que você consegue fazer 563 fotos para escolher a que ficou melhor, e isso tudo, em tempo real e ainda pode mostrar para o mundo, o seu mundo, o que você comeu no almoço e pra onde você foi depois de lá, um ou dois cliques depois, você mostra a sua alegria ao chegar ao trabalho e tudo está organizadamente lindo, perfeito. Seu sorriso precisa ser mais branco e seus olhos precisam de brilho para mostrar a felicidade em tempo integral, não importa se, durante esse almoço, você brigou com a sua mãe, reclamou da quantidade de trabalho e detestou a comida que você alegou ser maravilhosa na legenda da foto que alcançou seus 10 mil “amigos’ virtuais ou seguidores.

Se você chega em um restaurante, provavelmente não será notada logo de cara, porque cada um está cuidando do seu mundo virtual, e presença, se tornou um artigo de luxo na prateleira empoeirada da memória.

Há um tempo atrás, tudo era diferente, existia um telefone com fio grande e enrolado que a gente só tinha dentro de casa, não dava pra levar pra rua e nem tirar foto com ele. Para tirar uma foto era na sorte mesmo, você tinha 36 poses, no máximo 48 se não me engano, em um filme de rolo que não permitia 563 fotos pra ver qual ficava melhor, as vezes a gente demorava até meses para ver a foto revelada. Já existia a self, mas era apenas uma batida pra acertar a melhor pose. Os telefones em casa, eram muito divertidos, você podia ter uma extensão, que era a mesma linha telefônica em outro cômodo da casa e se você quisesse ouvir a conversa da sua irmã, da sua mãe ou de quem estivesse usando a linha, era só tirar o gancho, cautelosamente, cuidadosamente, quase como um ‘malabarista-detetive’ e podia escutar toda a conversa e ainda depois ameaçar contar pro seu pai, com quem sua irmã estava conversando baixinho.

Quando você chegava em um restaurante ou barzinho, as pessoas estavam conversando entre si e vivendo o presente alegremente, as mesas natalinas eram uma verdadeira festa e a conversa era alta, regada a música e vinho, com muita diversão. No dia das mães, ninguém se importava se você tinha almoçado lasanha, salada ou pão com salame. Dia dos namorados era um momento a dois, a gente nem lembravam que tinha um prato a ser servido, e tirar foto do prato ou até da gente mesmo, era o que menos se esperava. O momento presente tinha força de ser porque simplesmente ele era vivenciado, era real.

Antigamente, final de relacionamento se curava com choro, pizza, vinho, guaraná ou suco e muitas fotos rasgadas, recortadas. Hoje, curar dor de cotovelo é fácil, é só ir pra balada mais movimentada e postar uma ‘fotinha’’ de sorriso feliz, não importa se é, ele ou ela, quem está errado, os dois vão postar que são as pessoas mais felizes do planeta, mas vão chegar em casa e sentir o vazio que não perdoa quem não se permite viver o trágico fim. Sim, em tempos de redes virtuais, sentir qualquer coisa, não serve, o que serve é ser feliz, são fotos com sorrisos brancos, olhares vazios e corações que parecem estar perdendo a essência.

As redes sociais são maravilhosas ferramentas de engajamento, sim, a gente precisava desse mundo virtual para o tamanho do planeta que vivemos e quantidade de pessoas que nele habitam, antigamente contato era difícil, morar fora era complicado, conhecer alguém fora do continente, era namoro que não subia a serra mesmo. A internet facilitou demais a nossa vida nesse sentido. Vendemos, compramos, alugamos, viajamos, escrevemos, conhecemos, tudo dentro desse espaço fantástico que nos possibilita viver as infinitas possibilidades de forma mais plena. Mas e o vazio virtual? O que fazer com ele?

O que fazer com amigos que estão a uma cadeira de distância, mas não conseguem ouvir o choro aflito porque estão presos aos comentários e curtidas que estão naquela foto postada há 10 minutos? O que fazer com tanta informação que você não consegue nem processar direito e ela ficam pipocando na tela do seu celular a cada vez que você abre a tela para olhar se chegou mensagem? O que fazer com aquela ansiedade de esperar a mensagem que demorar a chegar e as vezes nem chega, que você não tem certeza se foi entregue, se foi lida e se sei la, foi aceita?

Pra tudo isso tem remédio: contato, olho no olho, amor puro e incondicional. É assim que a gente se cura, mas o nosso grito interno do ego fala forte no assunto vaidade e se não nos cuidarmos, vamos adoecer na abstinência das curtidas não vindas, dos comentários não postados. É preciso um caminho do meio e isso se faz com: presença e amor.

Estar presente nutre nossa alma com alegria de vivenciar uma das maiores experiências da nossa vida: viver o agora. Simples assim, tão falado assim, esse é o nosso maior objetivo na vida. Estar aqui é estar aqui, seja o que for que você esteja fazendo, é se entregar para esse momento. Se é almoço, almoce, olhe nos olhos das pessoas que te acompanham, converse, troque ideias. Se terminou relacionamento, chore, conheça sua forma de vivenciar o luto, não há nada de mal sentir um pouco de sofrimento, o sofrimento nos leva a percorrer caminhos a procurar por nós mesmos. Se vai pra academia, vá pra academia e pronto. Apenas se entregue ao fantástico presente que você tem nas mãos que é o maravilhoso: Agora. Fácil? Não, não é fácil. É uma armadilha por dia, por hora, por minuto, ainda mais com os recursos e estímulos externos que temos na mão, mas eu te alerto que: é completamente possível e quando a gente consegue fazer isso é uma sensação de plenitude tão grande, que todo o resto se torna apenas, memória. O que você está fazendo agora?








Carol Daimond, mineira de Divinópolis, bacharel em Direito e apaixonada pelas palavras entrelaçadas, mãe, mulher e terapeuta thetahealer, uma mistura de mulher que a cada dia se reinventa em busca da sua melhor entrega em partilha para o mundo. Sua jornada como escritora começou de brincadeira e tem se tornado cada dia mais a sua marca pessoal de verdade e essência.