Algumas vezes colocamos o nosso mundo em segundo plano para poder cuidar do mundo alheio. Quantas vezes não curei as cicatrizes dos outros e deixei as minhas abertas, quantas vezes simplesmente sai correndo, com a alma nua e sedenta, mas cobri você com todo amor que eu tinha e também com toda minha vitalidade, mesmo que isso me jogasse ao pó e diminuísse a minha alegria e a intensidade dos meus dias.

Quantas vez eu fiz tudo o que estava ao meu alcance e até mesmo me desdobrei perante os meus limites, e me quebrei em mil, mas eu supri todas as suas necessidades, e onde é que ficaram as minhas? A mesma arma que atira vira-se em busca de um novo alvo, e quantas vezes eu me taquei em frente para que você não fosse atingido, mesmo que isso levasse todas as minhas últimas poucas forças.

Eu me esforcei tanto para ser aceita no seu mundo, implorei por um lugar na multidão quando nem mesmo as portas eu fui convidada a estar, geralmente eu me espreitava e via alguns flashes, eu me contentei com o relampejo de alguma novidade que tu me me davas, e acreditei que ali eu tinha espaço. Que tola que eu fui! Ali nunca teve lugar para mim, e hoje estou aqui, com todas as peças do quebra-cabeças montados, todas a peças a mostra e me sinto exatamente aquela que não combina com nenhuma outra. Eu não tenho espaço por aqui…

Eu me debulho em lágrimas, justifico suas faltas, tento convencer a mim mesma que é apenas um melodrama sem pipoca caramelizada, eu brigo com minha consciência e repito infinitas vezes: “ELE REALMENTE ME AMA”. Mas o único amor que tem por aqui é aquele que eu dediquei a nós dois. E hoje que minhas forças desfalecem me deixando a beira de um colapso eu me pergunto: Onde é que está você quando eu mais preciso? Está preso na sua bolha impenetrável, se mantém inerte, se afasta, e eu fico em meio ao caos até o momento que você resolve voltar como se nada tivesse acontecido.

Por infinitas vezes eu me permiti a acreditar na ilusão que era tudo coisa da minha cabeça, mas hoje algo falou mais alto do que o amor que eu sinto por você, o que me convidou para acordar foi a dor. Essa dor que dilacera até mesmo as mentes mais brilhantes, hoje reabri todas as minhas cicatrizes, deixei sangrar todo o sentimento, abri os olhos e te vi exatamente como eu deveria ter visto desde o começo, foi necessário me desapegar das lembranças, dos momentos bons, para poder finalmente ver o quanto é irreal toda essa equação.

A dor foi necessária para eu poder vomitar o sentimento, as feridas que sabe lá quando irão fechar novamente serão sempre um lembrete do quanto você é letal, e que minha ingenuidade possa me fazer me apegar a uma única certeza: “Eu preciso seguir em frente”. Se eu desejar o seu amor que eu seja lembrada do porque eu parti, e se você tentar voltar para a minha vida que eu sinta toda a dor que você me causou desde o começo, sem nenhuma misericórdia. Eu te dei todas as chances de me ter em seus dias, eu estava com minhas asas machucadas. Você não me curou, eu estava à beira da janela e você simplesmente não me impediu de pular.

Eu cai, tudo em mim dói, e a mais latente de todas as dores é simplesmente saber que você não se importa, você nunca se importou…

Mais uma das coisas que eu já sabia e preferi ignorar!

Me desculpe, mas preciso me reerguer, e se algum dia o seu mundo tiver em ebulição, não venha me procurar, estarei longe reerguendo minhas asas e tentando voltar a voar, e de preferência para bem longe de você.








Re Vieira, guria apaixonada pela vida, escorpiana formada em direito, amante das palavras, ama café, gente divertida e vinhos, sou aspirante a escritora, louca de intensidade e sobrenome, tenho 27 anos mas perco a maturidade diante de um sorvete com gomas de mascar, me convidem pra beber e viramos amigos de infância.