Comportamento e Psicologia

Por que a troca de mensagens gera mal-entendidos, dúvidas e ansiedade

Fomos empurrados para o ambiente virtual sem termos aprendido a usá-lo com eficiência.

As mídias digitais revolucionaram a comunicação tão rapidamente que a ciência pouco tempo teve para investigar o impacto que essas ferramentas representam na forma como nos comportamos e nos relacionamos. Psicólogos da Edge Hill University, na Inglaterra, publicaram artigo no Trends in Cognitive Science defendendo que mais investigações sobre a utilização de emojis e emotions sejam feitas pelas áreas da psicologia e linguística, já que, segundo eles, 90% das pessoas que recorrem à comunicação online incorporaram esses ícones na forma como se expressam.

Em 2015, a “palavra” do ano, eleita por uma comissão do dicionário Oxford, foi, pela primeira vez, um pictograma. A palavra escolhida é avaliada como a que mais reflete as preocupações e o comportamento da sociedade naquele período. Segundo jornais ingleses, o emoji da risada representa 20% de todos os enviados naquele ano. No ano anterior, depois de analisarem centenas de milhares registros escritos on-line, agências de levantamento de informações constataram que a “palavra” mais usada também foi um símbolo.

Os amantes da língua podem perceber nessa tendência uma ameaça, um empobrecimento de vocabulário. Mas a comunicação pictográfica não surgiu para substituir a palavra: veio para ocupar o lugar das formas não verbais de comunicação – as mais reveladoras e poderosas.

Em um nível inconsciente, estamos constantemente buscando sinais que demonstrem as intenções do outro, ao mesmo tempo em que mandamos mensagens subliminares das nossas. É nesses sinais que encontramos feedback para regular nossas próprias ações e nos enxergar pelos olhos dos outros.

Nossa capacidade de “leitura de mentes” é bastante sofisticada: percebemos mudanças sutis na entonação da palavras e no espaçamento entre elas, no tom da voz, em gestos, expressões faciais, na postura e no olhar. Mas os comentários em redes sociais as mensagens enviadas por What´s App, que se transformaram na nossa principal forma de comunicação, não nos dão acesso a nada disso. Trocamos tantas mensagens, que mesmo o contato telefônico – que apesar de filtrar alguns indicadores emocionais, permite a leitura de outros – vem perdendo seu papel.

Os emojis entram em cena numa tentativa de transmitir a emoção e o tom que acompanham as palavras nas interações sociais mais completas, já que elas estão se tornando mais raras. Sem o acesso à riqueza de informações processadas inconscientemente na presença física, contamos com uma forma resumida e intencional de enviar mensagens; passamos a depender mais da razão para interpretar e nos fazer entender – o que aumenta consideravelmente a chance de desentendimentos.

Fomos empurrados para o ambiente virtual sem termos aprendido a usá-lo com eficiência. Nem todos sabem utilizar os recursos disponíveis. Muitos se intimidam com a tecnologia e têm medo de não se expressarem adequadamente – uma reação compreensível diante de um meio que gera recorrentes interpretações distorcidas até mesmo entre aqueles que se consideram bons comunicadores.

É natural que, para alguns, o fato de uma conversa ficar registrada por escrito, não podendo ser retirada do aparelho do receptor, cause desconforto. Afinal, besteiras que dizemos são esquecidas, morrem na hora. Já o que é enviado por escrito pode ser relido, repassado e até ser usado contra nós.

No extremo oposto estão os narcisistas. Nunca foi tão fácil identificá-los. Agem como aqueles que passam fazendo poses do lado reflexivo dos espelhos unilaterais, sem se importar com o julgamento do observador oculto que está do outro lado. Sem o feedback momentâneo enviado de forma subliminar pelas pessoas com quem interagem diretamente, esquecem que excessos desgastam a imagem.

Entre não estar nem aí para o que outros pensam e se preocupar demais com isso existe um campo central necessário para o convívio social saudável – um ponto de equilíbrio que a exposição permitida pelas redes sociais e pela comunicação virtual está tornando difícil de alcançar.

Também existe a dificuldade de lidar com a ansiedade que o excesso ou a falta de mensagens pode gerar. Receber constantes notificações pode causar dependência tecnológica, pois ativa o sistema de recompensa do cérebro – aquele que nos faz querer mais daquilo que traz sensação de prazer. Quem alimenta essa dependência diariamente é vítima do lado perverso da tecnologia, que atira para o vazio existencial aqueles que não sabem lidar com o silêncio.

É difícil manter a autoestima inabalada por muito tempo quando a comunicação se torna urgente e invasiva, mas ao mesmo tempo é incompleta. Mensagens lidas e não respondidas incomodam e magoam; mensagens interpretadas como secas ou muito diretas causam angústias e dúvidas. Diante exigências e das possibilidades da tecnologia, alguns se retraem e outros exageram. São formas diferentes de lidar com nossa inevitável dependência de afeto e aceitação em um meio ao qual estamos tentando nos adaptar.

Resiliência Humana

Bem-estar, Autoconhecimento e Terapia

Recent Posts

MAHATMA GANDHI DIZIA QUE ACREDITAVA EM CRISTO, MAS NÃO NO CRISTIANISMO

MAHATMA GANDHI DIZIA QUE ACREDITAVA EM CRISTO, MAS NÃO NO CRISTIANISMO. "NAÇÕES CRISTÃS PROCURAM RIQUEZA…

2 dias ago

Você já sentiu que estavam te observando, mas, quando se virou para ver quem era, não viu ninguém?

Você já sentiu que estavam te observando, mas, quando se virou para ver quem era,…

2 dias ago

Quer ver os números do seu negócio crescer de forma impressionante? Leia isso:

Talvez você esteja desanimada com os números do seu negócio, talvez você pense que já…

2 dias ago

Tudo o que você pensa que foi azar, na verdade, foi livramento.

Tudo o que você pensa que foi azar, na verdade, foi livramento. Por Iara Fonseca…

2 dias ago

Quase um quarto do mundo sofre com a solidão, diz estudo.

Quase um quarto do mundo sofre com a solidão, diz estudo. Quase uma em cada…

3 dias ago

Estudo revela que quanto mais você conversar com sua mãe, mais tempo ela viverá!

Estudo revela que quanto mais você conversar com sua mãe, mais tempo ela viverá! Se…

3 dias ago