Será que esses nossos amigos viciados em nicotina não merecem um tempo de mal olhares?

Sentada numa mesinha na rua, tomando uma cerveja com algumas amigas me deparei com uma cena comum nos dias de hoje. Uma garota bonita, aparentemente saudável, jogando conversa fora com suas colegas e seu namorado, tirou da bolsa um maço e acendeu um cigarro enquanto conversava animada. No momento em que ela começou a fumar, num ambiente totalmente aberto, as amigas já abanaram as mãos exclamando “pra quê isso?” e o namorado que estava ao lado fechou a cara. Ela ficou nitidamente incomodada com o repentino silêncio e falta de humor dele pois perguntava toda hora “o que foi amor?” e ele contido, só respondeu “você sabe que eu não gosto disso”.

Essa e frases como “eu só falo isso porque me preocupo com a sua saúde”, “ se você quer se matar, se mata, mas longe de mim” , “ cheiro insuportável” e entre outras agressividades são jogadas diariamente na cara dos fumantes que na maioria das vezes sabem lidar delicadamente com o problema.

É triste o numero de pessoas que morrem por causa do cigarro, a principal causa do câncer de pulmão. Tuberculose, enfisema pulmonar, otite, diabetes, amarelamento dos dentes, linfoma e por ai vai. Os males do cigarro são assustadores e o governo e os médicos fazem o seu papel advertindo as pessoas sobre esse grande problema mundial de saúde.

O vício da nicotina é uma doença assim como tantas outras. É difícil curar. Dificílimo. Mas de todas as doenças, por que só com o cigarro temos repulsa? Vemos um fumante e já automaticamente o rotulamos como rebelde, sem saúde, até estressado, coitado. Porque?

Quem cresceu na década de 90 sabe como foram feitas campanhas estimulando as pessoas a serem menos preconceituosas com doenças como a aids, diabetes e para nos adaptarmos e nos sentirmos todos iguais e com os mesmos direitos. Porque o viciado em nicotina ao invés de enturmado na sociedade é banido? É porque o vício dele prejudica pessoas que nada tem a ver com isso? Sim, exatamente. Mas até onde podemos ir com a nossa falta de tolerância? Seria uma questão de puro bom senso? Taí uma coisa que é bem difícil de ensinar para as pessoas. Até onde somos agressivos e um pouco hipócritas com relação aos fumantes?

Será que o namorado daquela garota deveria ter tratado ela daquela forma? Quantos não fazem isso? Com amigos, familiares? Desconfio que ela não é uma fumante constante. Ela só estava ali tornando o momento um pouco mais agradável com algo que talvez a faça se sentir melhor, por que não? Essa garota evidentemente é adulta e com discernimento suficiente para saber o que é certo, errado e o que fazer com a sua própria vida. Cabe a nós levantar e julgar?

Usei este espaço para abrir esse tipo de reflexão. Somos responsáveis pelas nossas atitudes e pela consequência que elas podem nos causar. Todos nós temos o direito de não gostar de alguma coisa, de não concordar, mas julgar? Apontar o dedo é sempre mais fácil, principalmente nós, os imperfeitos que tanto tentamos achar nos outros problemas maiores que os nossos como consolo.

 








Bailarina fora dos padrões posturais, atriz sem sucesso, estilista mal compreendida, me formei por fim em Marketing e me especializei em Invenções Tecnológicas e Redes Sociais. Hoje trabalho, estudo e escrevo para falar menos sozinha. Adoro moda e simpatizo com pessoas pelo tênis que usam, antes mesmo de trocar um “olá”. Sou apaixonada por cinema, séries de tv, viagens, artes e animais. Prefiro ser chamada de “admiradora investigativa” do que “stalker profissional”.