Você gostaria que alguém pelo simples fato de divergir de suas ideias atacasse a aparência de sua namorada, esposa, filha ou mãe?

Com certeza não.

__ Artigo escrito e validado pelo sociólogo e psicanalista DR. Jackson César Buonocore.

Porém, qual a diferença quando os insultos vêm de um bando de cafonas ou são proferidos por autoridades públicas?

Os cafonas são censurados pelo princípio da realidade, que é dar conta das exigências do mundo real e das consequências dos próprios atos.

Mas quando as ofensas são proferidas por autoridades, elas estão desrespeitando o princípio da impessoalidade, que define que os agentes públicos devem agir de maneira imparcial, não podendo beneficiar nem causar danos a terceiros.

O pano de fundo disso, é que há uma necessidade de autoafirmação da masculinidade tóxica, que alguns homens idealizaram ao longo da vida, que os influenciou no modo que se relacionam com as mulheres.

É uma virilidade que se incomoda muito com a feminilidade, que talvez tenha uma relação neurótica com a própria sexualidade.

É provável que tais homens apresentem a fase fálica mal resolvida, uma área erógena do corpo, que é fundamental para o desenvolvimento humano.

É nessa fase que ocorre o complexo de Édipo, mas se não tiver uma resolução para esse conflito pode ser a causa de grande parte das neuroses.

A psiquiatra neofreudiana Karen Horney constatou que isso pode significar a “inveja do útero”, que alguns homens sentem em relação às funções biológicas das mulheres, com o principal papel em alimentar e sustentar a vida.

Depreciar a aparência das mulheres, em princípio, é um mecanismo de defesa que certos homens utilizam para compensar seu complexo de inferioridade, que leva à supercompensação, resultante de realizações espetaculares ou de atitudes antissociais.

Esses homens têm padrões de comportamento que ferem e fazem sofrer.

Um sistema hierárquico, que coloca o masculino sempre em posição superior ao feminino, que considera as emoções como “coisa de mulher”.

Eles ainda reforçam a objetificação do corpo feminino, banalizando a imagem das mulheres, em que a aparência delas é o que importa mais do que todos os outros aspectos que as definem enquanto indivíduos.

As maledicências masculinas ganharam seguidores, que elevam o tom das hostilidades nas redes sociais.

É como escreveu a esplendida Fernanda Young:

“O cafona fala alto e se orgulha de ser grosseiro e sem compostura.

Acha que pode tudo e esfrega sua tosquice na cara dos outros.

Não há ética que caiba a ele.

Enganar é ok.

Agredir é ok.

Gentileza, educação, delicadeza, para um convicto e ruidoso cafona, é tudo coisa de maricas”.

Apesar disso, existe uma onda de mudanças, que busca uma nova masculinidade, onde o “androcentrismo” não é mais aceito como natural.

E, sobretudo, propõe radicalizar as relações igualitárias entre homens e mulheres, e que no cotidiano desconstrói os discursos, seja de um cafona ou de uma autoridade da pública, que insultam o estilo e a aparência das mulheres.








Sociólogo e Psicanalista