O mundo em que vivemos é louco. E muito mais louco do que o mundo, somos nós. A única forma de viver na loucura dos dias é sendo louco. Já me convenci disso.

Há os que buscam a tentativa da insanidade consciente. Mas entendo a consciência como a mais sátira e mordaz inteligência da loucura; portanto, inalcançável. E ai ficam num eterno paradoxo cíclico. Inútil, diria eu.

A loucura domina o mundo. Pessoas buscam de forma insana objetivos que estabeleceram para si e que, mesmo em seus árduos esforços, jamais alcançaram, dada a insatisfação humana da busca.

As pessoas fazem loucuras para aparecerem na mídia, para conquistarem a boa forma para o verão, para tentar conquistar a pessoa que admiram, para enriquecerem, para terem fama, para roubar namorado dos outros, para sonegar seus impostos…

Loucos! São loucos… loucos pelo dinheiro, loucos pelo poder, loucos pelo prazer, loucos pelo saber, loucos pela religião, loucos… enfim, loucos.

E assim, através de sua loucura, o homem enclausurou-se na dimensão da ausência de dimensão. Vive em seus espaços sociais não localizados, porque localizada não está sua loucura. Trabalha insanamente colocando em cada artifício sua parte, sua alienação, sua vida, não suportando, porém, aquela parte não corresponde ao todo da vida.

Sem dimensão, sem local ao qual pertencer, sem noção da consequência de sua insanidade e de seus atos para si mesmo e para os demais. E assim, vivem uma busca através da loucura, da felicidade do querer transcender a dimensão humana, racionalizando e quantificando o irracional e o infinito, incompreensível… loucura.

O homem, assim, se tornou distante da realidade, criando uma realidade paralela para seu próprio deleite, para se saborear no devaneio de sua mente, ora doente ora sã, fugindo da realidade onde não é feliz e na qual não se sente pertencente, na qual seus sonhos não vão se realizar, na qual sua verdade soa como mentira e que parece surda a atender aos seus anseios.

Eis o lado ruim da loucura.

Agora, há de se considerar, que também existe um outro viés da loucura, diferente de tudo que eu citei acima:

A mente louca é um privilégio. Tem em si a coragem, a sagacidade, a perspicácia de um profeta, de um louco que grita desesperadamente sussurrando palavras agudas aos ouvidos do tempo.

O tempo passa, e a loucura fica. Há um abismo entre a loucura e o tempo: o homem. A realização da liberdade – garantia fundamental da humanidade – se realiza nesse tempo. Ainda mais, a loucura atinge as culturas, o direito, a filosofia, a educação, a psicologia.

Honestamente, aquele que busca ser tão racional, tão correto o tempo todo, enlouquece ao se deparar com a verdade obvia de que o mundo é louco.

Existe uma clara distinção no entanto entre a doença mental, a insanidade e a loucura saudável.

Oras, enquanto uma te aprisiona a outra te liberta.

Enquanto uma te torna esquizofrênico e indesejado, a outra te torna criativo e aclamado. A loucura que me refiro como benéfica é bem distante de estar doente da cabeça, é simplesmente ser criativo, pensar fora da caixa, se permitir experimentar o novo, e não ser imoral, inconsequente, indesejável.

Ser um “maluco beleza” não é se entregar aos devaneios doentios de uma mente confusa, mas sim se permitir vencer a “normose” e o politicamente correto para encontrar consigo mesmo, sem infernizar ninguém, sem prejudicar nem perseguir pessoas por ai igual um louco obcecado e psicótico (sic), mas expandir os próprios horizontes e assim, mudar o próprio mundo, ocasional e consequentemente vindo a mudar o mundo de outras pessoas.

Pessoas normais fazem coisas normais. Pessoas loucas mudam o mundo: Einstein, Niemeyer, Galileu, Copérnico, Marquês de Sade, The Beatles, Martin Luther King, dentre tantos outros.

Essa loucura do bem, nos trouxe para mais perto de vivermos vidas melhores e mais plenas, e assim pra mais perto desse lugar chamado Felicidade.

Mas, e afinal, onde reside a felicidade suprema do homem?

Uma só resposta: na loucura! Na loucura estamos todos nós! Eu, você, o mundo todo.

Loucura: princípio do que somos, meio em que estamos, fim que buscamos!

“Dizem que sou louco por pensar assim… mais louco é quem me diz que não é feliz”.
_ (Balada do Louco – Os Mutantes)_

*DA REDAÇÃO RH. Foto de Collab Media na Unsplash

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Hebert Neri é jornalista, escritor, correspondente internacional e produtor musical. Atualmente vive em Portugal onde comanda o programa de rádio Neri Talks. Autor de 6 livros, Neri também é compositor de mais de 150 trilhas sonoras para rádio, cinema e TV.