Olhos pouco perspicazes podem confundir pessoas complexas com complicadas. Num primeiro momento elas até se assemelham um pouco mesmo, principalmente se a complexa tiver cara de mau humor e a complicada tiver lábia suficiente para te encurralar num joguinho pseudo intelectual.

Pessoas complexas amam analisar um assunto sob diversos ponto de vista, tentando conciliar diversos argumentos. Pessoas complicadas discordam enfaticamente pelo simples prazer de criar polêmica. As que apresentam um verniz de cultura geral utilizam argumentos falaciosos para seduzir os desavisados.

Pessoas complexas buscam o sentido da vida. Pessoas complicadas desperdiçam a vida com questionamentos estéreis.

Pessoas complexas lutam para construir e manter laços duradouros. Pessoas complicadas jogam fora relações por medo de se entregar.

Pessoas complexas gostam de experimentar comidas novas. Pessoas complicadas não encontram nada de bom num cardápio com 200 itens.

Pessoas complexas são enredadas por um papo inteligente. Pessoas complicadas fazem jogos de palavras para te deixar no vácuo.

Pessoas complexas amam profundamente. Pessoas complicadas te seduzem pelo prazer do jogo.

Pessoas complexas despertam a nossa admiração lentamente. Pessoas complicadas são fogo de palha: queimam loucamente e depois desaparecem.

Pessoas complexas reconstroem o mundo. Pessoas complicadas apenas o destroem sem propor nada de novo para pôr no lugar.

Pessoas complexas transformam a vida dos outros. Pessoas complicadas geram apenas um pouco de caos.

Pessoas complexas são como filmes de arte e clássicos da literatura. Pessoas complicadas são como um livrinho polêmico que vende horrores e depois esquecemos.

Pessoas complexas estudam seus medos. Pessoas complicadas são o próprio temor disfarçado de ousadia, irreverência ou qualquer outra coisa sedutora.

Pessoas complexas sabotam a ignorância. Pessoas complicadas sabotam o amor.

Pessoas complexas sabotam o inimigo interior. Pessoas complicadas se tornam seu pior inimigo.

Pessoas complexas sabem que precisam de terapia. Pessoas complicadas levam os ouros à terapia.

Pessoas complexas não negam seus fantasmas. Pessoas complicadas se tornam o fantasma na vida dos outros.

Nem tudo que reluz é ouro e as pérolas falsas são mais chamativas do que as verdadeiras.








Viciada em café, chocolate, vinho barato, filmes bizarros e pessoas profundas. Escritora compulsiva, atriz por vício, professora com alma de estudante. O mundo é o meu palco e minha sala de aula , meu laboratório maluco. Degusto novos conhecimentos e degluto vinhos que me deixam insuportavelmente lúcida. Apaixonada por artes em geral, filosofia , psicanálise e tudo que faz a pele da alma se rasgar. Doutora em Comunicação e Semiótica e autora de 7 livros. Entre eles estão "Como fazer uma tese?" ( Editora Avercamp) , "O cinema da paixão: Cultura espanhola nas telas" e "Sociologia da Educação" ( Editora LTC) indicado ao prêmio Jabuti 2013. Sou alguém que realmente odeia móveis fixos.