Todos os dias acontecem milhões de milagres no mundo. Acontecem à nossa volta e nas nossas vidas… a maior parte dos quais tão regularmente, que nem nos lembramos mais que são… milagres.

Ainda na semana passada um bebé de 4 meses foi encontrado nos escombros do terramoto no Nepal, após quase um dia deste ter acontecido. Um choro ouvido debaixo de quantidades imensas de detritos que tinham enterrado por completo esta criança, salvou-a. Quem viu o vídeo do seu salvamento decerto não o esquecerá. Após longos minutos a escavar e a tentar desenterrar o bebé, os salvadores desta criança erguem-na clamando “Deus é grande!”.

Milagre, do latim, “miraculu”, é por definição, um “prodígio, maravilha, coisa extraordinária”. Geralmente atribuímos à divindade o poder de conceder milagres. Mas todos nós – deuses embrionários – temos esse poder. Sabemos bem que as palavras certas no momento certo, por vezes vindas de completos estranhos que não fazem ideia do bem que fizeram, curam e salvam uma pessoa. Até palavras cruzadas, ditas a terceiros, têm o poder extraordinário de alterar por completo o nosso ânimo e estado de espírito. Um simples sorriso de um desconhecido, é por vezes suficiente.

O maior dos milagres talvez seja essa capacidade que todos temos de continuamente gerar, dar Vida, a nós próprios e a outros. As mulheres e os homens têm ambos capacidade de gerar, de formas diferentes… e algumas semelhantes.

É que não se trata apenas da concessão, gestação e geração de um novo ser, um milagre maravilhoso da Vida que acontece connosco e à nossa volta tão regularmente, uma capacidade exclusiva das mulheres, e das fêmeas, se englobarmos os animais. Homens ou mulheres, de cada vez que damos algo de nós, e nos damos, de forma verdadeira, profunda, sentida, criando uma transformação, estamos a gerar nova Vida. E curiosamente, dentro da palavra “dádiva”, está em anagrama a palavra “vida”.

Seja na forma de um filho, um livro, uma canção, um poema, uma pintura, um sorriso ou mil e uma outras formas de dar vida a uma ideia ou um sentir, em cada gesto carinhoso e amoroso, está sempre presente o Milagre da Vida – que é tudo o que resulta do Amor Universal.

E o fruto, nosso filho, é tudo aquilo que trouxer o novo, a esperança e gerar uma transformação emocional, psicológica, mental ou espiritual em nós próprios ou em outras pessoas. A transformação é a base da evolução. E tudo o que gerar um fruto, será fruto da Vida e do Amor, seja ele amor-próprio ou partilhado.

Como a terra trabalhada e preparada para receber a semente, a runa Inguz parece uma representação desta ideia – a Vida é abundante em milagres. E a capacidade de cultivar e gerar está em todos nós. Contudo, Inguz lembra-nos que para podermos testemunhar esses milagres temos de estarmos atentos e recetivos à sua possibilidade, e pôr em ação o nosso próprio poder de gerar… os milagres não acontecem, realizam-se.

A semente plantada tem de ser cultivada com cuidado e carinho, sem tentar apressar o seu processo e o tempo necessário à germinação, que a seu tempo leva ao crescimento, maturação da planta, e ao fruto. Tudo leva o seu tempo… e frutos apanhados antes do tempo certo não têm sabor, não alimentam, nem possuem as sementes maduras, necessárias ao plantio de novos frutos.

A Natureza também nos ensina isto.

A Todos desejo muitos frutos e muitas realizações do Milagre da Vida.

Vera Vieira da Silva