O vírus passará, mas a indolência e o egoísmo serão lembrados!

Por JENNIFER DELGADO SUAREZ

Dizem que uma imagem vale mais que mil palavras. Essa imagem, sem dúvida, resume perfeitamente as conseqüências da loucura que vivenciamos nessas semanas.É a imagem do vazio e da solidão. Mas também da indolência e egoísmo.

Tirada em 19 de março no supermercado Coles, em Port Melbourne, na Austrália, foi publicada pelo jornalista Seb Costello.

Nela você pode ver uma velha no salão vazio tentando fazer as compras durante o pânico que foi desencadeado nos dias de hoje como resultado do coronavírus. O jornalista diz que as lágrimas da idosa escaparam.

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O pânico de comprar itens essenciais, no entanto, são apenas a ponta do iceberg. Um iceberg tão profundo quanto a própria vida e tão estratificado quanto nossas classes sociais.

Essa imagem nos mostra que, embora o coronavírus não conheça classe social, aqueles que gerenciam a situação se diferenciam por classe social.

Diferenças que eram “suportáveis” antes, agora se tornam um soco na sensibilidade.

Diferenças que nestes tempos – mais do que nunca – podem fazer a diferença entre vida e morte. Literalmente. Sem eufemismos.

É também a imagem da vulnerabilidade.

Daqueles que foram deixados para trás, na ultima fila.

Aqueles que ninguém leva em conta porque já deram tudo o que tinham e perderam seu “valor social”.

Aqueles que se tornam invisíveis. Que quase precisam pedir perdão por existirem.

Aqueles que apenas pedem que a sociedade os lembre – mesmo que apenas ocasionalmente. E muitas vezes nem aspiram ajuda, mas pedem apenas para que possam tornar as coisas menos difíceis.

Essa – e outras imagens – também vão aparecer nos anais da história. Para nos lembrar o que a sociedade como um todo não queria ver. Para finalmente dar visibilidade aos invisíveis. Embora possa ser tarde demais para muitos deles.

A queixa surda daqueles que perderam a voz

Essa imagem também é uma reclamação surda. É um dedo acusador que força o sistema – e cada um de nós – a enfrentar nossa consciência. É uma batida que nos diz que erramos no caminho.

Essa imagem é o reflexo de uma sociedade muito cheia de si mesma. Muito ocupada. Muito alienada.

É a imagem que prejudica a imagem de empresas e governos, porque lembra que, mesmo que não desejem e resistam, têm uma obrigação social inalienável, como cada um de nós.

É também a imagem dos estados que minimizam a morte de seus idosos. Da ajuda decretada para os vulneráveis ​​que acabam se perdendo nos caminhos tortuosos da burocracia.

É a imagem de instituições e países que esqueceram a solidariedade e optaram por uma “salvar a si mesmo… quem puder”.

Daqueles que deram um golpe doloroso na Itália e nos italianos, deixando-os completamente sozinhos, alimentando a esperança fútil de que não seria a vez deles.

No entanto, não há nada como situações extremas para trazer à tona verdades que, de outra forma, seriam escondidas por trás de palavras doces e gestos vazios. Nessas situações, o que somos e o que valemos vem à tona – como pessoas e como sociedade.

Essa imagem, em suma, nos diz do estrondoso silêncio daqueles que ficaram sem voz que essa pandemia passará, mas as conseqüências de nossas reações e decisões permanecerão .

O medo vai passar.

O perigo permanecerá no passado.

As portas finalmente se abrirão.

Vamos encher as ruas novamente. Mas nossos comportamentos nos acompanharão – de uma maneira ou de outra.

E podemos nos orgulhar desse gesto de responsabilidade, solidariedade e humanidade. Orgulhoso da pessoa que éramos na época e da pessoa que nos tornamos.

A certa altura, quando a reconstrução das peças quebradas começar, essas imagens voltarão.

Lembraremos cada atraso, cada debate supérfluo, cada hesitação inútil, cada contradição flagrante, cada obstáculo burocrático, cada egoísmo que acabou custando vidas e causando sofrimento.

Lembraremos de tudo que pudemos e não fizemos.

Todo ato de irresponsabilidade, loucura e egoísmo.

Lembraremos dele por nós e por aqueles que não são. Mas, acima de tudo, lembraremos disso para garantir que eles não aconteçam novamente.

Por enquanto, temos mais que ficar em casa pelo tempo que for necessário. Cuidar dos doentes. Lamentar aqueles que se foram, mas já podemos imaginar o depois. E talvez – apenas talvez – com essa imagem em mente e intuindo outras pessoas em situações muito mais difíceis, seremos capazes de corrigir agora o que o nosso futuro nos lembrará depois.

*Com informações Rincon del Tibet. Tradução e adaptação REDAÇÃO RH.