Os psicólogos ou psicanalistas podem considerar a espiritualidade um modo de ajudar os seus pacientes na busca da cura. Vou utilizar os conceitos do psicanalista Erich Fromm para entendermos a diferença entre espiritualidade e religiosidade. A primeira tem o seu valor terapêutico e a segunda malconduzida colabora com o adoecimento psíquico das pessoas.

Fromm analisa o fenômeno religioso como algo de que o ser humano não pode prescindir, um elemento natural de sua existência. Ele pondera, apesar disso, que nem todas as religiões geram o bem-estar nas pessoas, porque determinadas instituições religiosas são autoritárias, anulando o desenvolvimento humano dos indivíduos.

É que essas religiões exigem dos fiéis uma fé cega, uma devoção incondicional à autoridade religiosa, pois elas não aceitam nenhum tipo de questionamento. É uma religiosidade que culpabiliza e gera confrontos. Associada a isso está a fé irracional, que é intolerante com quem não pensa ou crê como ela, já que basta ser uma criatura religiosa, mesmo que carecendo de espiritualidade. É como um coração desprovido de amor.

Porém as religiões humanistas, com intensos valores terapêuticos, aperfeiçoam o bom senso das pessoas, conduzindo-as ao conhecimento de si mesmas e de seu lugar no domínio da criação. Sendo religiões que buscam a realização humana, onde mantém a felicidade e uma fé sadia, que motivam os indivíduos a encontrar o melhor caminho para si próprios.

As religiões não autoritárias dedicam-se a construir uma “ponte” saudável entre o ser humano e divindade, um o caminho que permite ampliar essa relação entre o ser, o espírito e Deus. Assim as religiões conduzidas de forma honesta pelos sacerdotes reduzem a distância entre religiosidade e espiritualidade. Os verdadeiros clérigos compreendem de que a espiritualidade é anterior à institucionalização das crenças e que respeitam todas as religiões que promovem a vida e o bem.

Gosto da analogia de que a religiosidade é como tempo para o turista. Ele pega fila para tudo e viaja com os dias agendados, visto que tem presa e só olha para fora, não dando valor a paisagem que vê, ignora a singularidade das pessoas que passam por ele, uma vez que se preocupa apenas com os fatores externos da viajem e com as posts nas redes sociais.

Mas a espiritualidade é como um peregrino que desfruta do tempo, organizando-o conforme sua expectativa interior. Valoriza a vida, a cultura, a beleza humana e ecológica, interagindo com as pessoas que encontra no caminho. O mais importante para peregrino são os aspectos essenciais, do que que os fatores externos da viagem.

Enfim, temos dois caminhos a escolher: aquele do rosto “peregrino” das religiões que são fontes de espiritualidade: da voz interior e divina com – o seu toque suave e parche. Ou daquelas religiões que consagram apenas os brados das autoridades religiosas, que impõem proibições, preconceitos e pieguices.








Sociólogo e Psicanalista