Por: Giridhari Das

Os filhos os excluem de sua vida, nunca ligam, nunca falam com eles e chegam até a não convidar para o seu casamento.

E isso com pais e mães que lhes deram tudo, sacrificaram-se por eles. Como lidar com isso?

Um ano atrás, fiz um vídeo com o título “Filhos que não amam os pais”.

Veja aqui meu vídeo sobre esse tema:

O que me motivou foi ajudar filhos que sofrem por não amar os pais, sentindo-se na obrigação de amá-los, mas se esbarrando no fato de terem pais tóxicos, que infernizam sua vida.

Então pensei que era o momento de fazer outro vídeo e artigo, mas agora pensando nesses pais e mães sofridos. Uns falam que sua vida acabou por causa disso, enfrentam profunda depressão e tristeza por conta da falta de amor dos filhos.

Como lidar com isso?

Então, do ponto de vista dos pais e mães que estão passando por isso, como lidar com essa situação? Primeiro, todo pai e toda mãe precisam de enormes doses de autoperdão, pois criar filhos é tarefa árdua. Nos dias de hoje, mais do que nunca. Dificílima. Os desafios, as provações são inúmeros e gigantes. Portanto, perdoem-se primeiro por todas as falhas não intencionais que possam ter cometido.

Agora vamos ser francos e começar a buscar as possíveis causas para essa situação. Sim, há pessoas horríveis, sabemos disso, há verdadeiros sociopatas, psicopatas, seres do mal por aí. Então, sim, é possível que você tenha feito tudo certo e seu filho ou sua filha simplesmente seja um ser do mal, por isso demonstra absoluta falta de gratidão, total desamor e frieza. Pode ser que você tinha um karma pesado e ele se manifestou na forma de um ser horrível, como filho ou filha. Acontece.

Mas, provavelmente, não é isso. E se não é isso, então temos de buscar as causas. Não é uma questão de atribuir culpa, mas de buscar a causa para então encontrar uma caminho para a cura. A primeira coisa é ver se você não exagerou na disciplina. É fácil cair no padrão de apenas brigar, reclamar, exigir, ainda mais quando já estamos cansados do trabalho, estressados. A paciência já vive meio esgotada, aí vem dureza e a rigidez no trato com filhos, especialmente na fase adolescente, quando eles estão mais rebeldes, testando limites.

É fácil chegar a essa situação. Os pais se sentem tão responsáveis por tudo na vida dos filhos. Sentimos a obrigação de criá-los como pessoas boas, bem de saúde, com boas notas e queremos que arrumem o quarto e sejam responsáveis. Em muitas famílias, obrigam os filhos a seguir uma religião, a seguir dogmas. Os filhos precisam ser fortes, inteligentes, saudáveis e bem-sucedidos. Tantas fantasias, tantas demandas…

Muitos pais transferem para os filhos suas frustrações com suas fantasias falhadas, querem que “seja diferente” para os filhos. Empilhando assim exigências e mais exigências sobre os filhos, acompanhadas da falta de aprovação por não atingir essas exigências, é fácil criar um clima tóxico.

Talvez tenha faltado companheirismo, equilíbrio, amizade, o lado divertido dessa relação. Não só o amor na forma dura, mas em sua forma doce. Talvez tenha faltado tempo junto em lazer. De novo, não se trata de culpa. Talvez você não teve tempo. Trabalhava o dia todo, chegava em casa e ainda tinha de fazer comida, limpar a casa, cuidar da roupa, ajudar no dever de casa. Isso acontece, mas ainda assim cria um distanciamento.

Cobrança é outro grande elemento de atrito entre pais e filhos

Cobrança de ser isso e aquilo, de conseguir tais metas. Mães, em geral, gostam de cobrar amor também. Cobram reconhecimento. Afinal, é uma ralação sem fim ser mãe, ser pai. Sacrifícios enormes foram feitos, abriram mão de tantas coisas para dar aos filhos, agora querem cobrar. Cobrar amor é receita certa para criar afastamento, em qualquer tipo de relacionamento. Isso não estimula o amor, estimula o desgaste, tornando a pessoa mais propensa a querer distância. Afinal, quem quer se aproximar de alguém que vai lhe trazer mais peso, quando a vida já é tão pesada? Os filhos pensam: “eu não pedi nada disso”. E estão certos, não pediram mesmo, quem escolheu ter filhos foram os pais.

Essa mistura de demandas e cobrança por reconhecimento pode se tornar um fardo, gerando culpa e baixa autoestima nos filhos. Fardo este insuportável para uma adolescente já sobrecarregado com os medos e ansiedade que vêm com a fase que está vivendo.

O mundo não está fácil. Desemprego, medo de catástrofe climática, vício com pornografia, mídia social, drogas, violência urbana… Ser adolescente nunca foi tão difícil. E adolescente, naturalmente, biologicamente, já tem vontade de sair do ninho, e sair voando. E, se em cima disso existe um ambiente hostil em casa, de disciplina, cobrança e insatisfação, é fácil imaginar uma fuga, uma negação dos pais.

Essas reflexões podem ajudar na busca de uma reaproximação no devido tempo, mas agora vamos na essência da yoga, vamos tratar o problema do ponto de vista puramente espiritual. A essência da yoga visa trazer o foco para o nosso comportamento. Ficamos felizes quando agimos bem, e corrigimos nosso comportamento errado. O que outros fazem é problema dos outros.

Não dependemos dos outros para ser felizes nem ficamos tristes quando agem de forma diferente daquela que esperamos. Portanto, cabe aos pais pensar: “fiz meu dever?”, “fiz meu melhor?”. E pronto! Se a resposta for “sim”, acabou.

Ato feito, ato entregue. Se o filho ou filha se comporta mal hoje, isso é problema dele, ele é que está falhando em seus deveres, ele é que terá de conquistar a maturidade no próprio ritmo.

Por que sua vida vai ser impactada pelo mau comportamento de outro? Por isso a yoga tanto fala de desapego. Fique leve e solto na vida, fazendo seu melhor para satisfazer Deus, não os outros. Deus reconhecerá exatamente o que você fez ou não fez. Outros não precisam reconhecer seus atos.

Que sentido tem dizer que sua vida acabou porque tal pessoa, nem que seja seu filho ou filha, esteja agindo de forma diferente daquela que você imaginou? Isso é receita para infelicidade mesmo. Sua felicidade precisa depender apenas de você, essa é a base do caminho da yoga, do Caminho 3T, que eu tento ensinar. E funciona.

Portanto, se você está sofrendo com o mau comportamento dos filhos, pare e dê um passo para trás, veja qual participação você tem nesse relacionamento ruim.

Perdoe-se, perdoe o filho ou filha, dê-lhe espaço, dê-lhe tempo, depois busque reaproximação. Deixe as portas abertas, mas desapegue-se.

Seja feliz no hercúleo ato de criar um filho, na doação incalculável que fez. Seu dever foi cumprido, você pagou sua dívida com seus ancestrais, que também passaram por isso. Entregue a Deus essa situação. Se seu filho ou filha não quer mais saber de você, veja o lado positivo: mais tempo e energia livres você terá para voltar a se cuidar, para trabalhar o autoaprimoramento e a autorrealização.

Chega de mágoas, isso é um veneno. Só você sofre. Se você está assim, você precisa trabalhar muita coisa em si mesmo, e isso é parte do problema que está se manifestando no relacionamento ruim com os filhos. Buscamos nos curar, não achar defeitos nos outros.

Continue emanando amor, sem raiva, sem mágoa. Deixe a vida fluir, trazendo sua atenção para a sua vida além do papel de mãe ou pai. Agradeça a situação e traga o foco para você mesmo, para se curar, para se aperfeiçoar, para elevar sua consciência, para você crescer e ser feliz.