Nos últimos dias, no ápice de uma intensa (e cada vez mais corriqueira) crise existencial, refleti sobre algumas escolhas que precisamos fazer. Resgatando o ser otimista que há dentro de mim, calculei que ainda poderei viver mais uns 60 anos de saúde plena e mente ativa. No entanto, considerando que 28 anos voaram, e que a cada ano os dias parecem passar mais rápido, me desesperei!

Pensei em como toda escolha exige dedicação, tempo e investimento financeiro por longos períodos. Vi-me presa por anos em uma teia de escolhas que nos limitam e nos colocam em micro caixas.

Não tem jeito.

As caixas estão lá! Abertas com todas as inúmeras possibilidades de mundo que um ser pode vivenciar. A caixa dos cursos que gostaria de fazer, dos lugares que poderia morar, dos trabalhos que pretendia executar, dos romances que imaginava viver e dos diferentes estilos de vida que poderia escolher!

Eu faço uma pós ou outra graduação? Caso ou fico solteira? Vou para serra ou para praia? Encho-me de guloseimas como se não houvesse amanhã ou faço dieta como se fosse viver mais um verão? Espero ou sigo? Cachorro ou gato? Vejo séries ou saio de casa? Esmalte vermelho ou rosa? Calça ou vestido? O livro ou o filme? Cabelo curto ou cabelo longo? Brigadeiro ou pudim?

E aí? Eu junto dinheiro para fazer uma viagem ou para comprar um carro?

Uma casa? Um apartamento?

Aliás, eu junto dinheiro ou gasto tudo?

Eu não sei.

Viro hippie e vendo arte na praia. Viro workaholic e trabalho 14 horas por dia. Viro mãe. Viro tia. Viro atleta. Viro dançarina. Viro homem. Viro lobisomem.

(Lembrei do Ney Matogrosso)

Direita. Esquerda. Agora. Depois. Eu. Nós. Hoje. Amanhã. Tanto faz.

(Lembrei do Nenhum de Nós)

Eu não sei!

E, não que eu não possa comer pudim e também o brigadeiro ou usar uma calça num dia e um vestido no outro. Acontece que algumas caixas são bem mais profundas que outras e, entrar nela, implica entregar-se por anos há uma só escolha. Escolha esta que poderá definir, não só o que farei, mas as pessoas que irei conhecer, os lugares que irei habitar, as feridas que irão me marcar e os momentos lindos que irei lembrar.

Seja para um lado ou para o outro, toda escolha requer coragem.

Quando temos a liberdade de escolher criamos a ilusão de que vamos ganhar (afinal, estamos escolhendo, certo?). Acontece que, ter liberdade para escolher significa ter responsabilidade sobre as consequências de sua ação. Assim, quando escolhemos entrar numa caixa, estamos também perdendo ao perceber que, por vezes, é necessário abrir mão de todas as outras caixas que existem no mundo.

Eu sei. É confuso!

(E que fique claro que o texto segue o estado de espírito daquela que escreve)

Enfim, de qualquer modo, não há para onde fugir e, ainda que escolha ficar em cima do muro entre uma decisão e outra, você também já escolheu.

(Escolheu a caixa da covardia)

Mas e agora? O que faço com os meus vinte e poucos anos e toda essa imensidão de micro caixas?

Eu não tenho certeza, mas tenho seguido a seguinte regra: se é pra me aprofundar numa destas, que seja por paixão.