O que aprendemos e o que podemos levar de bom da quarentena?

Coronavírus, o invisível inesperado e indesejado. Um fantasminha nem um pouco legal que assustou a todos.

É inegável sentir medo e insegurança com tanta intensidade. O mundo tem sofrido com os efeitos avassaladores da pandemia da COVID-19.

Acredito que ninguém esteja aguentando mais o “castigo” de ter a sensação de estar perdido dentro da sua própria casa.

O mundo parou e ficamos paralisados, mergulhados num turbilhão de emoções sentidas à flor da pele. Estamos bem mais vulneráveis e bem mais sensíveis. A impressão que se tem é que está tudo bagunçado em virtude de algo tão pequeno que se tornou enorme. Multiplicou-se à velocidade da luz.

Não estávamos preparados para o inimaginável e o imprevisível. O pouco tempo de recolhimento parece uma eternidade e seus efeitos e consequências são de impressionar.

Estamos todos no mesmo barco e desconfortáveis com tudo o que tem acontecido ao nosso redor. O assunto tem sido o mesmo de sempre e tem-se tornado maçante. Estamos esgotados e entediados. Ninguém aguenta mais ouvir apenas notícias ruins o tempo todo e até quando? Parece não ter fim.

Tudo tem que ter um equilíbrio.

Ficar em casa com nossa família é bom demais. Ficar em casa por um motivo justo de preservação à vida é um ato de solidariedade e de amor ao próximo, mas sentimos falta da rotina sobrecarregada da jornada dupla, tripla.

Quantos chefes de família estão mais perto de seus entes queridos, porém preocupados com o pão de cada dia e com seus empregos?

Todos querem ficar mais próximos das pessoas que amam, mas por inteiro e não pelas metades.

De que adianta ficar próximos e ao mesmo tempo mais distantes, com a cabeça cheia de preocupações e com o coração apertado?

Estamos como pássaros presos na gaiola aberta.

Desfrutávamos de tantas coisas boas e nem dávamos conta de sua real importância em virtude da correria do dia-a-dia.

Fomos obrigados nessa quarentena a parar tudo por um motivo de força maior para sentirmos falta de tudo que nos completava.

Percebemos durante a quarentena que não era a correria do dia-a-dia e nem a rotina que nos cansava, pois mesmo sem essas estamos nos sentindo exaustos.

Acho que é bem assim.

Trabalhar demais esgota, mas não trabalhar também.

O “x “ da questão também não está na falta de tempo para se fazer algo e estar mais próximo das pessoas que se ama, mas sim na liberdade.

É na liberdade que o livre arbítrio faz toda a diferença em nossas vidas e não é à toa que Deus nos deu. É o livre arbítrio que nos dá a liberdade de querer tudo o que nos faz bem e que nos completa.

A liberdade e o livre arbítrio são interdependentes. São eles que nos movem a querer aproveitar cada minuto com nossos filhos, pois o que importa é a qualidade e não a quantidade.

São eles que nos movem a fazer aquele passeio ou aquela viajem para recarregar nossas energias. São eles que nos fazem viver em sociedade de modo “tudo junto e misturado”, pois fazem-nos sentir bem. São eles que nos dão o direito de ir e vir.

São eles que nos dão o livre acesso. São eles que nos dão a dignidade através do trabalho.

É a liberdade que nos faz falta e é esta que nos direciona para o que nos faz bem.

A liberdade junto com o livre arbítrio é o que direciona nossa vida para as coisas essenciais e não os desafios, pois estes são inerentes à própria vida.

Com o coronavírus ou sem, o sofrimento causado pelos desafios é o mesmo. Não existe dor grande ou pequena. A dor é a mesma e se resume em sofrimento.

Não é a falta de tempo que faz com que fiquemos mais distantes da nossa família e sim o nosso livre arbítrio. É uma questão de escolha.

Pode-se escolher brincar com o filho pequeno, dialogar com o filho adolescente, fazer refeições juntos, arrumar a cozinha juntos, escutar músicas ou ver filmes deitados ao lado do companheiro(a) ao invés de passar o tempo todo livre em bares, bem como presos aos celulares, navegando nas redes sociais.

O celular também tem sido causa de distanciamento dentro das famílias. O distanciamento da alma é bem pior que o distanciamento do corpo.

Acredito que esse sim é o grande vilão dos tempos atuais, fazem grandes estragos também e o que é pior, não é temporário como a quarentena.

Com a parada obrigatória passamos a dar mais valor a tudo que “perdemos”. Perdemos a normalidade da nossa vida. E essa normalidade envolve tantas coisas, tais como rotina, horários a seguir, trabalho, passeios, viagens, contato com a sociedade, etc. E principalmente a liberdade.

Todas essas coisas passaram batidas e precisou de algo assim, que nos impactasse para que pudéssemos mudar o nosso olhar.

Queremos ser como o pássaro que saiu da gaiola e voou para aproveitar tudo que a natureza tinha a eu lhe oferecer.

A grande verdade é que só aprendemos a dar valor a algo ou alguém depois que perdemos e essa é uma das lições que podemos tirar.

Ou seja, de aproveitar cada minuto de nossas vida para estarmos mais próximos das pessoas que amamos, bem como viver de maneira plena, ser felizes com tudo o que temos e não com o que queremos, pois a vida é curta e não sabemos o dia de amanhã.

Não sabemos se estaremos vivos daqui a uma hora.

Durante a quarentena e depois dela, sejamos gratos pela nossa vida, pois essa será a nossa maior vitória.

Seremos sobreviventes e a vida seguirá. Dessa batalha sairemos fortalecidos pela fé e teremos a oportunidade única de ver o mundo transformado e repaginado com outros olhos, cheios de amor e compaixão.

Vamos fazer nossa vida valer a pena, como se não houvesse o amanhã.








Idelma da Costa, Bacharel em Direito, Pós Graduada em Direito Processual, Gerente Judicial (TJMG), escritora dos livros Apagão, o passo para a superação e O mundo não gira, capota. Tem sido classificada em concursos literários a nível nacional e internacional com suas poesias e contos. Participou como autora convidada do FliAraxá 2018 e 2019 e da Flid 2018.