Minha mãe sempre teve uma técnica infalível – que eu não sei ao certo se era proposital ou intuitiva – para me fazer refletir quando eu fazia alguma coisa reprovável ou me importava demais com futilidade.

Me lembro como se fosse hoje. Sempre que eu fazia escândalo na rua por causa de um balão de gás hélio do Piu-Piu que custava a bagatela de 40 reais nos anos 90 (e que ela obviamente não ia comprar), ela olhava pro chão onde eu estava esperneando, mirava meu olho, vestia um semblante bem debochado e falava um calmo, sonoro e sarcástico “Você é muito bobinha”.

Era pá-pum. Tiro e queda. Eu começava a birra e ela logo me lembrava de me envergonhar pela minha bobeira.

Enfim.

Eu desconheço completamente a correção pedagógica dessa super técnica de repressão sutil da bobagem alheia que minha mãe usava e usa até hoje, mas confesso que em todas as vezes em que eu a ouvi, ela serviu, no mínimo, para me fazer pensar melhor sobre mim.

A real é que ser bobinha é ruim demais. O bobinho não é bom nem ruim. Vilão nem mocinho. Não faz bem nem mal.

O bobinho fala e faz em vão. Esperneia no chão, faz de tudo pra chamar atenção e sabe, lá no fundo, que não precisa e nem vai ganhar o balão. Muito menos a atenção.

O bobinho, coitado, não se cuida e nem cuida de ninguém. Não é ingênuo nem malicioso. Quente nem frio.

O bobinho é simplesmente tolo e perceber-se tolo, convenhamos, não faz bem a ninguém.

Hoje, olhando pros dias, meses e anos que já se passaram nessa minha ainda curta vidinha, eu consigo avaliar com bastante clareza os momentos em que eu fui bobinha e sou bem grata à minha mãe por me alertar sobre a minha tolice.

Hoje, mesmo desprovida do semblante debochado que só minha mãe tem, vez ou outra observo o mundo, observo a vida, observo as pessoas e só consigo pensar: “Meu Deus, quanta gente bobinha o mundo tem”.

Os bobinhos, coitados, preferem discutir sobre quem está certo a unir boas ideias para encontrar a solução.

Preferem perturbar a felicidade alheia a construir a própria felicidade. Bobinhos insistem em viver a vida dos outros. Vida de gente bobinha não tem graça não.

Bobinhos preferem parecer ricos a serem riqueza no mundo. Preferem a adrenalina de trair quem os ama a desfrutar da delícia de um amor fiel e bonito. Bobinhos preferem viver de falsa emoção.

Gente bobinha faz picuinha, cria antipatia gratuita e imagina que tem inimigos sem nem perceber que seus inimigos imaginários não ligam para eles não.

Bobinhos preferem rir dos outros a sorrirem pelas suas próprias conquistas. Fazem pouco, afinal. Gente bobinha normalmente não faz a diferença não.

Gente bobinha faz barulho.Grita. Berra. Gente bobinha vive de fingir ser o que não é. Normalmente ninguém que é bobinho se preocupa em ser bom.

A verdade é que gente bobinha se analisa muito pouco. Vai ver é por isso que minha mãe tenha aprendido a chamar atenção. Esperta ela.

Aprendi com ela e por isso peço encarecidamente: Ei, você aí, não seja bobo não!