Como de praxe, as festas de fim de ano chegam e para muitos, é um momento extremamente incomodo. Vai-se remontando uma série de desconfortos vividos ao longo do ano percorrido, remoendo no triturador dos pensamentos os erros cometidos, dores de parto que fez com que chegássemos à atual situação de refletir sobre as falhas. Situação nada gloriosa já que o ambiente das festas de fim de ano transforma-se numa tortura de imagens e de uma suposta felicidade, tal como se todos nesta época vivessem num comercial de margarina com uma família feliz e perfeita.

Somos pressionados na maior parte do tempo durante o fim de ano, a fingir estar alegre e animado com as comemorações. Entretanto é neste período que mais nos lembramos daqueles que já não pertencem ao mundo dos vivos, das pessoas que estimamos estando distante de nosso convívio, configurando tudo isto num sentimento de uma saudade por demais melancólica. Não é um saudosismo gostoso o que ocorre nesta época, é algo que acaba por consumir nosso espirito e pensamento em uma espécie de dor crônica, que à surdina derruba qualquer vontade de comemorar e festejar.

Botamos uma mascara frente aos familiares e amigos, numa certa hipocrisia que está virando tradição, onde tudo está certo e que os excessos alimentares da ceia de natal e ir para a praia vestido de branco consumindo a maior quantidade de bebida alcóolica possível, irá fazer com que o ano que estará por começar será bom e superior ao que ficou para trás. Será mesmo, se o objetivo for começar o ano com uns quilos a mais e com uma enorme ressaca no dia 1º. São tempos fraturados, onde a aparência e as constantes tentativas de não demonstrar o que realmente está ocorrendo dentro do próprio interior forçam as pessoas a meramente a virarem atores de uma peça de teatro, em que o personagem vivido é mera fantasia.

O clima natalino e das comemorações do ano novo beiram, cheiram e bebem de uma boa dose de hipocrisia, reinando indiscriminadamente no ambiente que nos cerca. Vemos inúmeras fotos de pessoas comemorando o natal, por exemplo, mas conversando pessoalmente com os envolvidos na imagem eles nos revelam discussões ácidas com familiares, reclamações de estar presente no mesmo local com pessoas em que a presença lhes é desagradável. São situações difíceis de suportar, mas que por tradição vamos mantendo, por mais que estas nos sejam caras tanto mentalmente quanto fisicamente.
Não quero nem pretendo estragar comemorações milenares muito menos extirpar com o sentido das mesmas. Mas é necessário criticar e fazer perceber que neste momento não somos sinceros nem consigo mesmo, e na ação de fingir que tudo está bem para interagir com o semelhante acabamos por nos isolar-nos mais profundamente dos outros, pois apenas falseando uma suposta felicidade, não demonstramos nossas dores e não temos o reconforto dos braços daqueles que mais estimamos. A verdade é que esta época do ano necessita e precisa de maior sinceridade das verdades das emoções.