Muito se fala sobre a solidão (e a chamada solitude – a face positiva, o estar bem sozinho). Difícil entender por quê sentimos solidão, mesmo cercados por dezenas de pessoas, por quê às vezes experimentamos o prazer da solitude e por quê, outras tantas, nos sentimos tão preenchidos de presenças acolhedoras mesmo que elas estejam a quilômetros de distância.

Pensando sobre minha própria relação com a solidão e a solitude, percebi que se relacionam intimamente com a qualidade das relações que travamos.

Primeiramente, a relação que travamos conosco mesmos: o quanto fortalecemos nossa auto estima a ponto de apreciar a nossa própria companhia verdadeiramente. Mas isso é papo pra outro texto.

A solidão, esse bicho corrosivo, também está muito associado a uma inequívoca sensação de invisibilidade: sentir-se invisível para aqueles com quem convivemos e nos relacionamos, é o que pode causar solidão ainda que cercados por pessoas, ainda que dentro de uma relação amorosa.

O que quero dizer por invisibilidade? É você perceber que as pessoas ao seu redor não lhe enxergam verdadeiramente, em sua inteireza. Seja por incapacidade, por não estarem dispostos a tentar, ou mesmo por total e completo desinteresse. A invisibilidade é a sensação de incompreensão de quem você é, ao menos nas dimensões mais essenciais do seu ser, ainda que você tente expressar de modo inteligível das mais diversas formas. Disso decorrem outros problemas e frustrações, cuja origem, em geral, é essa invisibilidade.

E da onde surge essa invisibilidade? Bem, pode ser que estejamos com pessoas que realmente não conseguem nos compreender e nos enxergar, por serem tão diferentes das nossas bases formadoras, que parecem pertencer a um planeta diferente. Muitas vezes, ocorrerá de nos depararmos com pessoas que não tem disposição mínima e empatia para essa tarefa de entendimento e compreensão do outro que toda relação saudável exige. E várias dessas vezes todas insistimos em extrair dessas relações uma compreensão improvável (às vezes até impossível), persistindo em dinâmicas que deixam esse vazio ainda maior e mais profundo quanto mais permanecemos nelas.

Fato é que a solidão que a maioria da sociedade moderna enfrenta, não é a solidão do completo isolamento, um ermitão morando nos confins da terra apenas com seus próprios pensamentos… é a solidão acompanhada. E essa talvez seja mais dilacerante que a solidão realmente solitária. Essa ocorrência tem sido ainda mais pandêmica na atualidade pela superficialidade e liquidez com que as interações tem sido travadas – na descartabilidade inerente às relações de consumo, no individualismo de gerações auto centradas. Por isso que, apesar de formas cada vez mais abundantes e teoricamente mais fáceis de comunicação, a solidão hoje seja uma sensação mais abissal do que em qualquer outra época de correspondência meramente postal. E essa solidão não é aplacada por interações superficiais, amigos por conveniência, seguidores ou comentários em redes sociais.

E a solitude? Bom, ela vem sim de uma saudável relação consigo mesmo. Mas também daquela cálida convicção de que, quando precisarmos compartilhar as belezas e agruras da vida, temos pessoas que verdadeiramente nos vêem, compreendem, ou ao menos esforçam-se ao máximo para tal; que nos cercamos de pessoas que se importam, se esmeram, porque também enxergam quão essencial é cultivar relações saudáveis, de reciprocidade, troca e apoio mútuo, que realmente tomam tempo para enxergar e ouvir seu interlocutor com os sentidos todos atentos. Desse modo, essas pessoas podem até estar distantes fisicamente, mas carregamos esse conforto do acolhimento dentro de nós por onde estivermos.

Então, ficam aqui alguns questionamentos: você tem se cercado de relações de qualidade na sua vida? Com pessoas que lhe dão essa sensação de compreensão, com quem você se sinta tudo menos invisível? E você? Também tem sido alguém que se empenha em acolher e enxergar verdadeiramente as pessoas da sua vida?

Marian Koshiba








Formada em Direito, escritora por necessidade de alma, cantora e compositora por paixão visceral. Só sabe viver se for refletindo sobre tudo, sentindo o mundo à flor da pele. Quer transmitir tudo que apreende (e aprende) por todas as formas criativas possíveis.