Eu conhecia aquele homem de negócios há pouco tempo. Sabia que era um homem muito importante dentro da organização. Muitas pessoas tinham receio dele devido à toda sua importância e exigência. Um senhor de certa idade, sério e com muita bagagem cultural e profissional.

Nos jantares em que estive junto à ele, percebi que toda a atenção era destinada à sua pessoa. Apesar dele não olhar nos meus olhos, prestava atenção no que ele dizia e no comportamento que a sua presença gerava em meus colegas de trabalho. Confesso que não me senti muito à vontade. A situação era clara: o jantar era para ele e o clima não ficava muito descontraído.

Mas com toda o rigor do senhor alemão, teve algo que me chamou a atenção desde o primeiro jantar. Ele citava sua esposa em vários comentários que fazia. Vez ou outra ela parecia estar na conversa, mesmo não estando presente. E seus olhos pareciam brilhar quando ele a trazia para o assunto. “Seria ele ainda um homem apaixonado por sua esposa?”.

O tempo passou e mais uma vez o senhor importante estava presente. Entre um dia de trabalho e outro, mais jantares. No primeiro deles, poucos convidados. Mais uma vez eu apenas observava. Falante como o que, sabia que não era o momento propício para minhas conversas. E mais uma vez o homem de negócios me intrigava. Ele trazia sua esposa para a conversa entre um assunto e outro. Era como se ela estivesse sempre com ele.

E achei que estava mesmo. Na semana anterior ele havia completado mais um ano de vida. Num e-mail simpático escreveu que sua esposa havia feito um bolo para ele e seus colegas de trabalho. E lá estava ela mais uma vez, até mesmo no E-mail de aniversário. Não eram meros detalhes. Ninguém fala com tamanha constância do cônjuge após anos de casado. A não ser que, de maneira misteriosa, tenha encontrado uma forma de manter acesa toda a paixão de início de relacionamento.

Na noite seguinte acabei ficando sozinha com aquele senhor dentro da minha sala. Isto nunca tinha acontecido antes. Apesar do receio que eu também tinha dele, decidi dizer o que sentia. E perguntei: “Posso fazer uma pergunta pessoal?”. Se tratando da cultura alemã, não é algo muito comum e educado falar sobre a vida particular. Fui “pisando em ovos”. Ele disse que sim e então eu continuei: “Tenho uma forte e boa impressão sobre o senhor. Que ainda é apaixonado por sua esposa”.

Pela primeira vez ele me olhou fundo nos olhos e respondeu de imediato e muito surpreso: “Sim, eu sou apaixonado pela minha esposa. Como voce sabe disso?”. Eu expliquei que ele citava a esposa nos jantares sempre que podia e que seus olhos brilhavam cada vez que ele falava dela. Ele continuou me olhando nos olhos, feliz e surpreso ao perceber que seu amor era percebido por quase que uma estranha. Ele contou que era casado há vinte anos e que achava sua esposa atraente até os dias atuais. Se sentiu tão feliz e lisonjeado, que contaria minha constatação à sua amada.

Eu até tentei explicar para ele, o quanto minha observação me deixava feliz. O quanto era reconfortante para mim perceber, vez ou outra, um casamento que deu e continua dando certo. Diferente da maioria que observo no dia-a-dia, este era para mim um exemplo atípico e que me trazia a esperança do amor verdadeiro ainda em minha vida.

Minutos mais tarde em um novo jantar o homem de negócios me pediu para repetir o que havia percebido.

É… o temido homem de negócios podia parecer rígido no trabalho. Mas havia encontrado em sua vida o que tão poucos encontram: o amor que dura….








Brasileira, 41 anos, formada em Tecnologia em Processamento de Dados, pós-graduada em Gestão Estratégica de Pessoas. Atua numa multinacional na área administrativa como profissão. Escritora, colunista e roteirista por paixão. Poliglota. Autora de doze livros publicados de forma independente pelo Amazon, além de quatro roteiros para filme registrados na Biblioteca Nacional. Colunista no próprio site www.carolinavilanova.com e vários outros. Youtuber no canal Carolina Vila Nova, que tem como objetivo divulgar e falar sobre as matérias do próprio site.