O amor mudou de jeito, ela percebeu que ele já não era mais como antes, ele estava com um olhar distante, um jeitão esquecido pra tudo, até mesmo pra dar um beijinho de ‘bom dia’, ela sabe que o amor não havia acabado, por outro lado aquela soma já não era igual a dois, foi após essa percepção que, tudo dentro e fora dela ficou uma bagunça, aquela bagunça que a gente não faz ideia por onde começa a arrumar, afinal, já fazia tanto tempo que ela era nós, que ‘se devolver’ era assustador antes de se tornar um grande presente, algo precisava de um direcionamento. Com muito carinho ela acolheu aquele momento em suas mãos e olhou para os seus olhos no espelho e não enxergou, não se encontrou e pensou – tudo isso tem um motivo muito maior, que agora consigo compreender e esse momento era necessário ser vivido dessa forma.

Sentiu o dia passar com grandes ideias e uma revolução interna que a deixava inquieta, ela queria encontrar suas respostas, queria achar aquela que um dia foi tão diferente, sua ideia não era resgatar nada, mas entender o que a fez mudar a direção, porque se entregou tanto a ponto de se perder? Ela tinha muitas perguntas, poucas respostas e um relacionamento prestes a desabar e talvez, de tudo, isso era o que menos importava, o relacionamento era importante sim, mas o encontro consigo era o que falava alto nesse momento.

Um pedacinho de amor por si mesma, abriu uma janela que estava emperrada há anos. Sim, ela foi se entregando aos poucos, quase sem perceber, foi tudo tão sutil, ele colocava como achava que deveria ser, ela não queria questionar pra não estragar o momento, e assim, com opiniões sufocadas, pouco a pouco a janela foi enferrujando, quase que a velocidade de um conta-gotas, impedindo que ela percebesse as mudanças.

Então ela começou o longo trabalho de se cuidar, começou a grande faxina interna. Muitas memórias vieram à tona e daí surgiram os sonhos esquecidos à custa do outro, lembranças em poses fotográficas de um passado que parece tão distante, renúncias anunciadas em favor de um eu que não era seu e tantos ‘sims’ reprimidos pelo medo de mostrar sua verdade. Ela já não reconhecia aquela mulher de lembranças amarelas, de sorrisos emudecidos e sonhos reprimidos, quem era a sua verdadeira essência?

Quando essa porta se abre nos conduzindo de volta pra gente não há mais como voltar, o caminho é sempre pra frente e foi assim, que limpando as caixas internas ela seguiu adiante, ele percebeu que algo estava florescendo e se renovando no que parecia não ter mais vida, novamente eles estavam entrando na sintonia, já não existia aquele silencio ensurdecedor entre os dois e ele conseguia sentir, de longe, o aroma do amor próprio dela.

Então agora, todos os dias ela levanta com um brilho no olhar que vem da fé de que agora sim, agora será diferente. Ela acorda renovada pela esperança, pela certeza de que a vida dará uma nova chance aos corações que se partiram, é sempre assim, um eterno ciclo de recomeços, em que se encerra um momento para que algo novo nasça. Ela olha onde o coração alcança e se faz vestida dos sonhos que ela guardou por tanto tempo por não caber ali, naquela sala de dois espaços, ela e ele.

Seus sonhos, tem cheiro de caderno no primeiro dia de escola e uma vontade desbravadora de realizar. Uma sensação de que tudo está novamente entrando no seu lugar invade o seu coração e ela sente a paz, que há muito tempo estava perdida. Seus olhos brilham, sua boca seca, o coração bate forte e ela caminha confiante, rumo ao horizonte, levada pelas incertezas do recomeço, ela se permite viver o magnifico agora, onde seus pés pisam e o cheiro das flores se espalha pelo ar.








Carol Daimond, mineira de Divinópolis, bacharel em Direito e apaixonada pelas palavras entrelaçadas, mãe, mulher e terapeuta thetahealer, uma mistura de mulher que a cada dia se reinventa em busca da sua melhor entrega em partilha para o mundo. Sua jornada como escritora começou de brincadeira e tem se tornado cada dia mais a sua marca pessoal de verdade e essência.