A gente erra, sim. Erra o tempo todo, em todo canto. Erra porque só assim se vai adiante. Quem nunca errou na vida? Não, não se trata de justificar uma falta e outra aqui e ali. Reconhecer uma falha não é o mesmo que livrar-se dela e de seus efeitos. É só se dar conta de que erramos. É só o primeiro passo para não errar de novo e, se errar, saber o que fazer nessas horas.

Todo mundo erra. Na vida, na obra, em casa, na rua. Erra no trabalho, no trato com o outro, no jeito de cuidar de si mesmo. Erra no amor. Ahh… como a gente erra no amor!

Atire a primeira flecha o cupido que nunca cometeu um erro. Acontece, ué. O arqueiro amoroso se engana, aproxima pessoas incompatíveis, mistura vinho com água, empurra gente boa para péssimos partidos, fere de amor quem já andava casado com outro. Essas coisas das quais quase ninguém escapa.

A gente quando se apaixona é fogo: ama primeiro e pergunta depois! É assim mesmo. A gente confunde amor e paixão, sim. E daí? Paixão a gente não explica, não defende. Quando bate é indefensável. A paixão faz o que quer com a gente. Inclusive acreditar que encontramos enfim o amor da nossa vida. Não nos culpemos. Na paixão, todos somos principiantes para sempre.

Quem se apaixona começa tudo de novo sempre. Volta a ser inocente, bobo, desprovido de lucidez. Deixemos de culpa. Larguemos as conjecturas. Abandonemos as ponderações. Quem se encanta se lança sem mais. Paixão com o pé atrás é avião que não decola, bomba que não explode, espirro que não acontece.

Gente apaixonada erra, ué. Fazer o quê? Paixão, quando é prenúncio de amor, é a coisa mais bonita. E a gente não pergunta antes mesmo: sai amando como se o mundo fosse acabar ali e depois vê o que faz.

Tomados de paixão, somos precipitados, impacientes, irrefletidos. Porque paixão não combina com sensatez. Combina com amor. A paixão e o amor se parecem demais, nasceram um para o outro. Daí a confusão que a gente faz toda vez que acontece. E não adianta o velho discurso dos especialistas, tão ponderados, apregoando que amor não é paixão e blá blá blá. Vá lá. Não é mesmo. Mas que eles se parecem, ahh, eles se parecem, sim.

Concordo. Nem sempre o amor acontece depois da paixão. Às vezes o fogo apaga tão logo os apaixonados acordam do transe. Mas antes as labaredas chamuscam tudo. Ardem a pele dos amantes, fervem-lhes o lago de prata que repousa no jardim de seus corações. Então que importa se a paixão vai dar em amor ou não? A gente ama primeiro e pergunta depois.

E que sejamos felizes enquanto der, do jeito que tiver de ser. Além do mais, nada nos impede de amar antes, durante e depois também. Quando chegar a hora de fazer as perguntas, amaremos de novo. Depois de novo e de novo e para sempre de novo, infinitamente renovados num amor eterno e quente, porque nunca haveremos de abrir mão dos sintomas afogueados da paixão.

Deus nos permita viver tomados de paixão e amor até a hora mais avançada da vida. Seremos velhos de pele flácida e coração largo, amando nosso estado de permanente e infinito apaixonamento. Quem sabe?

A gente quando se apaixona erra. De vez em quando erra feio. Mas sabe o quê? Aqui pra nós, eu acho que o maior erro mesmo, o mais escandaloso engano de todos é perder a chance de cair de quatro numa paixão louca. É ficar de coisa e não se apaixonar. Se isso virar amor, muito que bem. Se não der, e daí? É da vida. Que seja. Já valeu.

No meio da paixão que a gente pensa ser amor, cadê a diferença? Não tem. Não tem porque a gente quando se apaixona já sai amando. Feito filho de peixe parido em água fria que sai nadando exímio, bicho profissional, a gente se apaixona e logo se ama sem mais o quê. Ama primeiro e pergunta depois. A gente ama e depois vê o que faz.








http://www.revistaletra.com.br/ Jornalista de formação, publicitário de ofício, professor por desafio e escritor por amor à causa.