Como seres humanos, temos um interior colorido por múltiplas emoções. Elas vêm em muitas nuances, algumas intensas e vibrantes, mas outras tão sutis que quase passam despercebidas. Às vezes, pode ser até mesmo difícil distinguir uma da outra, pois raramente aparecem de modo isolado. Sem dúvidas, algumas são sentida de modo mais agradável que outras.

Temos o curioso costume de pintar algumas dessas sensações internas de modo mais belo que outras; descrevemos e separamos as positivas das negativas, essas últimas que, muitas vezes, olhamos de canto de olho e queremos banir das nossas vidas, senão da sociedade.

Fazendo isso, entretanto, podemos cometer um erro.

Idealizamos excessivamente algumas emoções, mas esquecemos da importância de outras. O amor, certamente, é alçado a patamares divinos: tudo devemos amar, nossos parceiros, famílias, empregos e objetivos; já o ódio parece tão desprezível senão até vergonhoso.

Esquecemos, porém, que o ódio tem uma função. E, veja bem, não estamos falando de qualquer uma: é ele que nos protege. É ele que nos permite estabelecer limites. É o ódio que nos protege de sermos completamente devorados subjetivamente. Como força vital, é ele que nos tira de uma certa passividade perigosa.

O amor exige proximidade e intimidade, é verdade. Queremos estar próximos do outro e também que este nos queira. Todo desejo é desejo do desejo do Outro, aponta a psicanálise. Entretanto, o amor também precisa de distância. Sem essa distância, não há encontro. O que existe é apenas um Eu que se sobrepõe ao outro. É precisamente neste ponto que tropeçam muitos relacionamentos que se tornam abusivos, uma vez que não suportam que outro precise de distância para existir e para poder verdadeiramente amar.

O amor cura. Mas o ódio, às vezes, também. Suportar que o outro não goste de UMA PARTE nossa (sempre é uma parte, nunca o todo) e sobreviver a isso é importante. Suportar o afastamento que o ódio saudável proporciona e saber que o amor continuará lá é uma prova difícil. Assim como ser capaz de odiar, se afastar e, ainda assim, conservar algo do amor dentro de nós a ponto de poder enxergar que isso não é o fim de tudo, mas um início de algo novo e belo.

O verdadeiro amor é aquele que suporta atravessar a prova do ódio; é o que abraça a diferença e permite se distanciar, para depois poder se reaproximar. O verdadeiro amor compreende que o encontro só existe quando há distância.








Gaúcho, graduado em psicologia e estudante apaixonado das relações humanas e da pluralidade do amor. Acredita que este sentimento é sempre saudável quando é uma via de mão dupla e mútuo crescimento. Nas horas vagas, dedica-se a escrever sobre o amor e suas complicações na página Relações Perigosas no Facebook.