Alguém que não se sente obrigado a ter razão, não necessariamente foge de um debate ou se cala diante de uma opinião contrária à sua, mas vive muito melhor porque entende que é possível que existam dois pontos de vista diferentes.

Ninguém precisa ter razão para vivermos em paz.

A verdade absoluta até existe sim. A questão reside no fato de que ela, na maciça maioria das vezes, é inalcançável para nossa percepção. Por exemplo: um grupo de amigos conversava em uma sala diante de uma janela grande, quando um lindo pássaro pousou no parapeito. Então, a curiosidade se abateu sobre todos em relação ao motivo da sua visita. O primeiro disse que era por causa do cheiro da comida. Outro, pelo fato da janela ser marrom. Teve quem achou que, cansado, o pássaro fez uma pausa em seu voo, enquanto um dos amigos disse que provavelmente a ave fora atraída pelas vozes conversando.

Definitivamente existe uma razão para o pouso do pássaro, mas ninguém jamais ficará sabendo. Qualquer um dos amigos podem estar certos, mas pode ser ainda um motivo que não tenha sido abordado, nem sequer imaginado. Eles analisaram aquele pouso em função das suas sensações, vivências e pontos de vista. E a verdade deles consistia na conclusão individual de cada interpretação. Portanto, diante da realidade experimentada de cada um, todos estavam certos. E, então, a verdade se tornou relativa.

E é assim que o mundo funciona. Cada mente é um universo à parte que lê os fatos de uma forma única e extremamente particular. A incerteza sobre nossas verdades abre pressuposto para que talvez elas sejam apenas um esquema de ideias criado pelos nossos pensamentos em função de nossas crenças e valores. E compreender isso não é nem só uma questão de humildade, mas também de sabedoria. Porém, muitas vezes falhamos nesse ponto. Falta-nos entendimento para aceitar que nossa opinião é formada num sistema que existe dentro da gente. E que pode, com mínimas chances, coincidir com a verdade do mundo, entretanto, sendo uma interpretação subjetiva, jamais seremos capazes de confirmar sua veracidade.

Com isso, as verdades podem ser concomitantes, ou seja, a minha verdade, a sua, e a de todo mundo é valida e pode ser considerada como possibilidade. Pensamos diferente e, por isso, nossa opinião é nossa realidade e aquilo que tendemos a acreditar como fato da existência, porque ela vem da nossa formação e não pode ser substituída por uma razão de fora, a não ser que lá dentro da gente, essa nova razão encontre lugar naquilo que somos ou almejamos. Mas é um processo natural e autêntico e, portanto, não pode ser forçado.

Então, da mesma forma que nenhum dos amigos pode ter certeza sobre a real motivação do pousa do pássaro na janela, também não podemos nos tornar os donos da verdade sobre assuntos como religião, política e até sobre o que se passa na casa do vizinho ou nas razões que levam alguém a ter uma atitude. Podemos interpretar os fatos e chegar a uma conclusão, mas com a única certeza de que não podemos ter certeza. Então, querer impor um ponto de vista não cabe ao mais inteligente, mas ao mais arrogante.

E quando aceito as escolhas ou opiniões do outro e sigo tranquilo permitindo que elas possam existir no meu mundo mesmo que eu pense diferente, assumo a possibilidade dou outro estar certo e o risco de estar errado sobre minhas próprias ideias. Com essa postura, cedo ao bom senso e à maturidade. E, assim, perco essa ânsia por me auto afirmar diante das minhas razões, convivo em harmonia com os outros e me permito ser realmente feliz dentro do vasto mundo de ideias que habita em mim.








"Luciano Cazz é publicitário, ator, roteirista e autor do livro A TEMPESTADE DEPOIS DO ARCO-ÍRIS." Quer adquirir o livro? Clique no link que está aí em cima! E boa leitura!