Nas últimas semanas, veio à tona o horror das 2,3 mil crianças separadas dos pais que tentavam entrar clandestinamente nos Estados Unidos e foram despachadas para jaulas em diversas cidades do território americano, gerando sofrimento entre os filhos e seus pais. O presidente Trump esbravejou mais uma vez o seu discurso de ódio contra os imigrantes e refugiados.

Essa onda de ódio contra imigrantes, refugiados e asilados também se dissemina pela Europa, como se fosse uma epidemia. O mundo desenvolvido está adoecido pela xenofobia. Assim, o futuro é sinistro para milhares de famílias, que se arriscam ao mar e sonham em ter uma vida melhor nesses países. Mas o que encontram são muros de concretos ou de arames farpados, barricadas e policiais armados.

Hoje, são 64 milhões de pessoas que deixam para trás suas vidas na África e no Oriente Médio, fugindo da miséria, das guerras, da intolerância política ou religiosa e do terrorismo, sobrevivendo em campos de refugiados ou na fronteira entre países. E muitos travessam oceanos em canoas, barcos e botes em condições perigosas, levando consigo a esperança do que restou.

Porém, um grande número de seres humanos naufraga nessa travessia. Apenas em 2015 morreram 3.771 pessoas e na primeira semana de 2016 desapareceram 406, segundo a ONU. Essas mortes aumentam a cada ano diante do olhar paranoico das autoridades europeias, como se essas pessoas fossem criminosas.

O que assistimos é uma crise humanitária, gerada por expulsões coletivas e arbitrárias nos Estados Unidos e na Europa. Esses países foram responsáveis no passado pela exploração econômica da África e da América Latina. São Nações que têm todas as condições de garantir o respeito e dignidade aos imigrantes e refugiados, com base nos princípios da solidariedade internacional.

A insanidade disso, é que as mercadorias podem circular livremente e os capitais não têm fronteiras. Por que os produtos devem circular no mundo e os seres humanos não? É que a globalização maximizou a prosperidade econômica dos países ricos, em detrimento da falência de empresas nacionais e da pobreza de milhões de pessoas ao redor do planeta.

Diferente dessa lógica, o sociólogo Zygmunt Bauman afirma que ninguém é superior ou inferior a ninguém, já que vivemos em um mundo multicultural, onde há espaço para todos. Os imigrantes que chegam a um novo país querem trabalhar, pagar impostos, cumprir as leis, ou seja, ser reconhecidos como cidadãos.

Portanto, os refugiados são pessoas que deixam seus países, uma vez que estão sendo perseguidos por motivos de raça, religião, nacionalidade e opiniões políticas. Os asilados são cidadãos que buscam abrigo, pois estão sofrendo algum tipo de perseguição política. Já os imigrantes são pessoas que abandonaram os seus países, em busca de melhores condições de vida.

Entretanto, o narcisismo maligno de Trump e a postura esquizofrênica de alguns governos europeus negam essa realidade. O nosso Papa Francisco faz um alerta a esses líderes mundiais: “Somos todos Imigrantes. Ninguém tem moradia fixa nesta terra. ”








Sociólogo e Psicanalista