Sentados em posição tântrica (abraçados de frente um para o outro, com as pernas sobre as pernas da minha dupla), ouvido esquerdo colado a um outro ouvido esquerdo desconhecido, eu e meu parceiro deveríamos gritar o que o facilitador pedia (ordenava): “Eu preciso de você!!!!!”, “Eu te amo!!!! Não me deixe!!!”. O nome da dinâmica sugerida era flashing, parte das terapias da Humaniversity, e foram poucos os momentos da minha vida em que tive tamanha realização. Foi exatamente quando, após a primeira rodada (que envolveu também alguns pedaços de AUM Meditation), me levantei e avisei que ia sair.

Não estava em um “processo”, não estava irritada. Com um sorriso de orelha a orelha, tive naquele momento uma libertação da obrigação de permanecer em qualquer atividade que não me toque, que não desperte a minha verdade ou ache desnecessariamente agressivas.

Juro que tentei gritar. Tentei acreditar que tinha qualquer verdade no que eu estava fazendo. Mas eu não via sentido em me estrebuchar acoplada a alguém, pedindo para que outro alguém não me deixe. Tentei ver um sentido mínimo em provocar um riso ou um choro em um momento que não tinha nada disso dentro de mim. Nada.

O facilitador me explicou que afastou pensamentos suicidas em uma longa vivência destas, e provocar estas emoções traz controle à sua vida. “Você aprende a dizer não”.

Perfeito! Objetivo alcançado com sucesso: eu, a partir daquele momento de contemplação do meu próprio ser, dos meus limites e da minha vontade de adulta-buscadora-consciente do meu autodesenvolvimento, estava dizendo NÃO a qualquer tentativa de qualquer ser que tente saber mais do que eu sobre até onde posso e quero chegar.

Eu estava consciente de que não era uma fuga: foi com uma alegria absurda que percebi que nada ali mexeu com conteúdos que me incomodassem. Não era também qualquer incômodo com a intimidade – uma das possibilidades levantadas.

Era, única e exclusivamente, a noção de que ao contrário das demais pessoas que suavam e se emocionavam, nenhuma das terapias da Humaniversity fez sentido pra mim. Efeito algum. Algumas achei até de mau gosto (a começar pela trilha sonora, sempre um putz putz anos 1980) e não vou participar de processos só para fingir, ainda mais quando tenho que ficar ouvindo alguém gritar o que devo fazer.

Eu estava vivendo ali um momento de plenitude tão grande e ela se tornou 20 vezes maior enquanto ele fazia um discurso preocupado sobre como estou fugindo de ser uma pessoa melhor.

Percebi ali como há um desespero de evangelização terapêutica, uma cegueira de crenças que impediu que ele notasse o tamanho do meu avanço naquele momento. A cura que eu mesma tinha me proporcionado, após passar por inúmeras situações semelhantes e não ter força, coragem ou certeza suficientes para argumentar e dizer: “Ache o quiser. Eu sei de mim”.

O relacionamento terapeuta-paciente pode ser abusivo quando não respeitados os limites, mas, especialmente, quando o primeiro subestima a capacidade do segundo de saber o que é melhor para si mesmo.

Eu sei do que eu fujo. E eu sei o quanto me dói fugir. E eu sei também o que é enfrentar meus demônios conscientemente. Sei o que é me entregar a atividades em que não botava fé alguma e sair quase em estado de catalepsia de tão intenso que foi.

Sei o que foi me arrastar três vezes por semana, no inverno, às vezes 7h da manhã, para ir ao yoga, atividade que eu achava um pesadelo (que só não era maior do que o da minha consciência quando não ia).

O resultado foi que ele mudou minha forma de existir e virou o grande amor da minha vida (mesmo que neste momento um tanto afastado, mas logo pertinho em uma formação).

Então, o principal conselho que posso dar é: vá muito além de onde acha que é seu limite. Mas se você tem confiança no quanto se observa e se conhece, por favor, não deixe ninguém decidir por você qual realmente é o limite do limite. Não se permita invadir, nem pela melhor terapia do mundo, nem pelo terapeuta que você mais ama.

Se estiver em paz com sua certeza, pode acreditar que a cura está chegando. Cada vez que a gente consegue ouvir mais alto a voz do guia interior (e você vai saber quando for ele, e não qualquer mecanismo de fuga te chamando pra vida mais fácil), você está mais perto de onde precisa chegar: na sua essência.








"Jornalista, produtora e terapeuta em permanente construção. Terapeuta do Deserto é o nome que encontrei para representar meu “eu pensante” em transformação - movimento este que, confesso, não pedi. Mas ao entrar em contato profundo comigo a partir do yoga e depois de outras mil ferramentas de autodesenvolvimento, o processo se tornou sem volta. Compartilho minhas experiências e visão deste despertar, agora aportando na mágica cidade de Alto Paraíso de Goiás.