Autores

Não queira ser consolado por quem te machucou

O duro é quando a gente quer receber consolo justamente de quem machucou sem parar, de quem já recebeu o nosso perdão inúmeras vezes, mas o amassou e o jogou no lixo toda vez.

Li por aí que pessoas feridas ferem pessoas. E tem mais: muitas vezes, pessoas feridas ferem aqueles que são mais próximos, quem realmente as ama com sinceridade e caminha junto, de perto. A dor faz isso, cega e se espalha de maneira injusta, não raro com crueldade. Por essa razão é que costumamos descontar nossos problemas em pessoas com quem temos mais intimidade.

Geralmente, as pessoas tratam mal quando sabem que serão perdoadas. Filhos, por exemplo, costumam destratar seus pais, na certeza de que o amor permanecerá o mesmo. E é desse jeito que a dor se espalha entre pessoas cujos laços são mais fortes. Quando a escuridão toma conta de nossas almas, temos necessidade de expulsar aquilo de dentro de nós e acabamos jogando o nosso pior em quem estiver mais perto.

Por outro lado, existirão pessoas que nos machucarão gratuitamente, deliberadamente, sem que consigamos enxergar um porquê naquela atitude, que, para piorar, repete-se continuamente. Repete-se, como se nunca fôssemos alguém com sentimentos, alguém visível, alguém vivo. Agirão à nossa revelia, sem se importarem com o que iremos sentir, com o tanto que sofreremos. Haverá quem trairá, quem mentirá, quem se esquecerá da gente, quem magoará, ignorará, quem passará por cima. E de novo e de novo.

O duro é quando a gente quer ser consolado justamente por quem machucou sem parar, por quem já recebeu o nosso perdão inúmeras vezes, mas o amassou e o jogou no lixo toda vez. Difícil será perdoar quando o outro errou sabendo exatamente o que estava fazendo, esquecendo-se de que estaríamos aqui nos decepcionando com aquilo tudo. E, muitas vezes, ninguém conseguirá fazer nada para amenizar nossas feridas, porque estaremos ainda apegados ao consolo de quem machuca.

Cabe-nos, portanto, valorizar a nossa capacidade de perdoar e de receber perdão, para que sejamos vistos como alguém com sentimentos, com personalidade, com limites. É preciso deixar claro que tudo tem limite, desde o perdão até a bondade, para que não nos tornemos alguém banalizado, neutralizado, pisado. E lembremos que, muitas vezes, quem menos poderá nos consolar será quem queríamos, ou nunca sairemos desse ciclo de mágoas sem fim.

Prof. Marcel Camargo

Graduado em Letras e Mestre em "História, Filosofia e Educação" pela Unicamp/SP, atua como Supervisor de Ensino e como Professor Universitário e de Educação Básica. É apaixonado por leituras, filmes, músicas, chocolate e pela família.

Recent Posts

Estudo revela quantos filhos causam menos estresse aos pais — E o resultado surpreende

Quem é pai ou mãe sabe: criar filhos é uma das tarefas mais desafiadoras da…

19 horas ago

5 Sinais discretos que podem revelar o passado amoroso de uma mulher

Quando conhecemos uma nova pessoa, é comum nos questionarmos sobre o passado dela, principalmente se…

19 horas ago

Espetáculo raro com duas chuvas de meteoros visíveis a olho nu promete surpreender a todos neste fim de mês

Se você é um amante da astronomia, se prepare: na madrugada entre os dias 29…

20 horas ago

3 Frases que revelam que alguém está infeliz, segundo a psicologia

Muitas vezes, os sinais de infelicidade não aparecem em lágrimas ou desabafos diretos, mas sim…

20 horas ago

Depois de uma certa idade, os homens simplesmente param de se importar com essas coisas

O tempo tem um jeito curioso de mudar prioridades. Se na juventude os homens estão…

20 horas ago

Os signos mais difíceis de ter como amigo, segundo a astrologia

Você já teve uma amizade que parecia promissora, mas que rapidamente virou uma dor de…

20 horas ago