Acho que de fato ninguém é sozinho por opção. Acho que todos ou praticamente todos nós nascemos para o encontro. Não me refiro a casamentos formais. Me refiro a relações de um modo geral, com diversos graus de comprometimento. Cada um tem o seu jeito de viver o amor. E independente de ser uma relação mais tradicional ou mais solta, ter alguém faz falta.

Acredito sim que muitas pessoas optam por ficarem sozinhas porque preferem a falta de um parceiro a um parceiro incompatível. E quando uso o termo incompatível, me refiro a muitos tipos de incongruência, que podem ser de natureza intelectual, emocional, sentimental etc

O que se fazer quando se deseja alguém que não se interessa por nós? Se atirar nos braços de alguém que se interessa para passar o tempo e fingir que está fugindo da solidão? Talvez, algumas pessoas se sintam realmente melhores desta forma. Mas quando a fidelidade ao próprio coração fala mais alto e não basta sentir braços ao redor do nosso corpo para mergulhar na deliciosa sensação do aconchego amoroso, tudo que nos resta é ficar sozinhos.

Embora o lema a fila anda e a catraca gira seja tentador quando se deseja ter alguém, na prática não é tão simples assim para muitas pessoas. É difícil esperar por aquele convite que não vem, por alguma palavra assertiva que confirme o texto que lemos no olhar do outro. É difícil ver a esperança perdendo as forças dia a dia e o desejo se desmilinguindo por falta de reciprocidade. É sempre uma pena quando o amor é abortado, antes mesmo de se tornar amor.

Mas se não podemos usufruir de momentos especiais com quem desejamos e se a companhia de outro parceiro não nos satisfaz, restam muitas opções. Se não é possível sufocar o desejo do dia para a noite, se a nossa catraca anda emperrada, ok. A vida é cheia de possibilidades. A falta de um parceiro amoroso não deve ser motivo para ficar triste, deixar de se divertir, viajar, estudar, conhecer novos lugares, falar bobagens, desenvolver projetos interessantes. Se não é possível ser feliz no amor, é possível ser feliz no trabalho, nas amizades, nas relações familiares. Uma mente criativa e ativa, que se conhece, encontra sempre um plano B para todas as crises da vida.

 








Viciada em café, chocolate, vinho barato, filmes bizarros e pessoas profundas. Escritora compulsiva, atriz por vício, professora com alma de estudante. O mundo é o meu palco e minha sala de aula , meu laboratório maluco. Degusto novos conhecimentos e degluto vinhos que me deixam insuportavelmente lúcida. Apaixonada por artes em geral, filosofia , psicanálise e tudo que faz a pele da alma se rasgar. Doutora em Comunicação e Semiótica e autora de 7 livros. Entre eles estão "Como fazer uma tese?" ( Editora Avercamp) , "O cinema da paixão: Cultura espanhola nas telas" e "Sociologia da Educação" ( Editora LTC) indicado ao prêmio Jabuti 2013. Sou alguém que realmente odeia móveis fixos.