A primeira vez que me adicionaram em um grupo do Whatsapp eu levei um susto. Sem meu consentimento, sem nenhum aviso, de repente eu estava recebendo mensagens seguidamente, e de súbito eu me percebi envolvida em uma conversa que não sabia como tinha começado, nem quem eram os interlocutores, nem qual era o assunto. Aos poucos, assim que pude parar o que estava fazendo para verificar o que estava ocorrendo, me deparei com umas cem mensagens, e fui tentando ler uma por uma, assuntos começados e acabados se intercalavam no rolar da tela até o final, onde eu realmente não sabia mais como me colocar. Fiquei na dúvida sobre o que achar daquilo: um sinal de consideração, ou um desrespeito com a minha privacidade, uma vez que o número do meu celular ficaria exposto para pessoas que não conhecia ou para quem nunca o havia cedido?

Fiquei sem graça de sair. Solução: coloquei no silencioso. Por vezes aparecia ali para saber se havia alguma informação, algum chamado, algo que fosse relevante no sentido de convidar para a vida. Nada. Fotos, vídeos, brincadeiras, comentários. As vezes haviam mais de quinhentas mensagens e eu desistia de ler. Desde então, a coisa cresceu e tem se tornado visceral. Tudo o que eu vou fazer, qualquer coisa da qual eu comece minimamente a “fazer parte”, tem um bendito grupo de Whatsapp pela frente. Consigo ver a maravilhosa funcionalidade disso em alguns casos. Pessoas em comum, decidindo coisas em comum, podem se comunicar com muito mais facilidade, em tempo real e tomarem suas decisões, como no caso da organização de uma festa, de um trabalho, e em meio a isso alguma descontração ou outra. Ótimo! Mas, na maior parte das vezes, o que predomina nestes grupos é uma variedade de invalidades que poderiam tomar o dia inteiro.

A quem preza mais pelas presenças reais, pelas atividades solitárias que envolvem o caminhar, o chegar a algum lugar, o fazer algo, o encontro seja com uma pessoa ou com uma experiência, ou mesmo a simplicidade do silêncio, o tempo que estes grupos tomam não é nada interessante. Logo, estas pessoas tendem a se tornarem ausentes através do ato de “silenciar” o grupo ou saindo do mesmo. Daí vem a outra questão incômoda dessa nova forma invasiva e talvez vazia de interação: quando você se faz ausente ou sai do grupo, as pessoas tendem a te julgar, a torcer o nariz, a te ignorar nos ambientes físicos. Todo o tipo de julgamento decorre dessa recusa em participar ativamente do grupo do aplicativo: se sente melhor do que os outros, não se interessa pelos outros, não tem senso de humor, não aprecia discussões, é associal (ou antissocial), não tem assunto e por aí vai.

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Outra possibilidade é que, caso você seja o tipo de pessoa estranha que prefere compartilhar o vídeo com os dizeres de um filósofo do que com uma pessoa caindo de bunda na lama (o que deve ser compreendido como engraçado), você é uma pessoa muito intelectualizada, o que se tornou um termo pejorativo. Se você prefere compartilhar uma música nova que descobriu, do que uma voz irritante falando uma merda qualquer, você está forçando em ser “cult”. Qualquer coisa que saia do padrão lhe infligirá um batismo com um rótulo. Enfim, não se pode ter um gosto próprio ou um interesse próprio: é preciso seguir o comportamento do grupo.

Nestes grupos ainda, você vai ouvir falar mal de pessoas que não estão presentes e que, logo, não podem se defender. Poderá ter a nobre oportunidade de se antipatizar a pessoas com as quais nunca sequer teve contato. Poderá também se tornar uma dessas pessoas, logo que saia do grupo ou em algum outro grupo que criaram sem te “incluir”. Grupos que se tornam uma audiência de julgamento sem o conhecimento por parte do réu.

Embora perceba a possibilidade de que essa ferramenta seja usada para facilitar a vida, para aproximar as pessoas, fazer com que indivíduos que frequentam os mesmos espaços e talvez nunca se aproximassem possam se aproximar, se interessar um pelo outro, percebo que ela muito pouco ou nada funciona dessa forma, na maior parte dos casos. Do uso que dela fazem, talvez por seguirem as tendências de como um grupo de “zapzap” deve funcionar, a possibilidade do novo é sufocada pela padronização.

Nesse caso, eu que não chego a ser uma pessoa a moda antiga, peço encarecidamente: querem me conhecer? Querem me envolver? Querem que me sinta parte? Então me chamem para beber, para comer uma pizza, tomar um sorvete, sentar na grama da praça, qualquer coisa que envolva contatos de fato. Porque essa coisa de interagir com todo mundo, afinal, a isso o virtual nos permite, mas não se relacionar com ninguém, já deu no saco.