Falar de amor, acaba-se por falar da dor de um coração partido. É tipo doença, ferida aberta, sem cura, sem remédio. Não há antídoto, poção mágica, capaz de curar um coração. Só o tempo… Ah, o tempo! Tantos duvidam de sua maravilhosa capacidade curativa de cicatrização de almas, de corações.

Em um livro do qual me apaixonei, chamado A livraria mágica de Paris, o personagem Jean Perdu, um livreiro dono de uma farmácia literária flutuante, se poupou de amar por 21 anos após ser abandonado pela mulher que amava. Sem remendos, sem medicamentos capazes de curar ou, talvez, aliviar a dor que lhe corroía por tantos anos… O livro é fabuloso, pois nos mostra que jamais se pode remendar um coração e sim, ensiná-lo a viver com aquela dor.

Se eu tirar um Raio X do meu coração, verei vielas e caminhos que o marcam por todas as vezes que ele se partiu. Meu coração já se estilhaçou em tantos pequenos pedaços que, ao juntar-los pensei que jamais ele voltaria a bater. Mas voltou. Amou, se quebrou de novo, eu recolhi seus pedaços, devolvi todos em seus lugares e continuei a viver. Não há remendos. Se olhar bem, ainda verei as falhas, as trincas. Porém, eu aprendi a viver com minha dor.

Dizem os filósofos que a dor renova a alma, que um coração ferido é capaz de grandes criações, grandes feitos. Acredito neles. Encontramos sempre formas de lidar com nossas marcas e as que ficam no coração passam a nos orientar e nos tornamos grandes pessoas, grandes sábios, grandes poetas!

Em muitos dos artigos que escrevo eu faço questão de “puxar orelhas”, de dizer “acorda, o mundo não espera você se curar!”, mas, neste, eu só queria escrever para todos que possuem marcas no coração, para todos que tiveram seus corações feridos, seja no passado ou recentemente. Quero dizer que não importa quantas pessoas partem seu coração, ele jamais deixará de bater, de acreditar, que um dia, alguém o tratará como merece.

Estou aqui hoje para que sinta um calor sobre seu coração feito os últimos raios de sol de um lindo dia de verão. Feito uma xícara de chá no sofá numa noite de inverno ou feito aquele primeiro beijo. Quero que saiba que podem partir nossos corações por vezes incontáveis que ainda seremos nós, porém, mais belos, mais sábios. As marcas fazem parte de um processo de amadurecimento nos mostrando que, quanto mais marcas, mais experiências, mais sentimentos, mais nos permitimos.

Jean Perdu se impediu de amar por vinte anos por medo que lhe partissem mais uma vez o coração. E logo se deparou com o vazio e o tempo perdido por acreditar que poderia remendar o que era irremendável.

Não há remendos que conserte um coração partido, meus amigos. Nem outros amores, nem multidões, nem aquela canção alta numa balada cara. O álcool não remenda, nem mesmo a morte.

Aceitar que o que se quebra é para sempre, talvez seja uma das mais difíceis tarefas em nossa vida. Aceitar que faça o que quiser, jamais se conserta o que se quebra. Sempre ficarão marcas, sempre haverá a lembrança do dia em que foi partido pela primeira vez…

Pois assim, pare de querer se consertar. Pessoas não consertam corações, não colam, não remendam. Que elas virem obra de arte! Sim, todas as sua cicatrizes. Que sejam lindas e únicas peças no museu da sua vida, insubstituíveis, singulares.

Não tenha medo da dor que o quebrar causa, ela passa. Passa sim, passa logo. Apenas aceite a dor e veja através dela, compreendendo que ela não é sua inimiga, que ela não te quer mal, quer que apenas você se conheça, se abrace e aceite que corações são quebrados a partir do momento em que nos abrimos para o mundo. É normal, sabia? Faça amor com seu coração. Deixe que ele saiba que você o respeita, o ama e o compreende apesar de tudo.








Escritora, blogueira, amante da natureza, animais, boa música, pessoas e boas conversas. Foi morar no interior para vasculhar o seu próprio interior. Gosta de artes, da beleza que há em tudo e de palavras, assim como da forma que são usadas. Escreve por vocação, por amor e por prazer. Publicou de forma independente dois livros: “Do quê é feito o amor?” contos e crônicas e o mais espiritualizado “O Eterno que Há” descrevendo o quão próximos estão a dor e o amor. Atualmente possui um sebo e livraria na cidade onde escolheu viver por não aguentar ficar longe dos livros, assim como é colunista de assuntos comportamentais em prestigiados sites por não controlar sua paixão por escrever e por querer, de alguma forma, estar mais perto das pessoas e de seus dilemas pessoais. Em 2017 lançará seu terceiro livro “Apaixonada aos 40” que promete sacudir a vida das mulheres.